segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Noite e Dia
Agora diz-me quem és tu, que estás agora de pé, à minha frente. Olho-te fixamente e só de o fazer, sinto que não me és estranha. Fazes a transição entre a noite e o dia, entre o bem e o mal, e tens a chave do cadeado que prende os meus problemas. Levantas o braço graciosamente, e estende-lo na minha direcção. Eu impulsivamente recuo mas algo me fez parar. Abriste-a e os problemas começam a fugir. Surpreso eu começo a sorrir, afago-te o cabelo e a noite torna-se dia. Foste tu, sacana. Não sei como foste capaz de chegar, acontecer, fazer com que tudo desapareça e te tornares a resposta para tudo. Foda-se, absolutamente tudo! Dou um passo em frente e abraço-te desprovido de tudo aquilo que me prendia dantes. Tu fizeste o mesmo. Agora, que estou contigo as doze horas são doze minutos e o tempo não chega. Agora odeio a noite porque me priva de pensar em ti. Agora já não odeio mais nada, tenho as minhas explicações. O teu sorriso inocente deixa-me na dúvida se és realmente tão experiente como eu penso. A guerra com os sentidos acabou, eu ganhei, mas eles também. As minhas mãos preenchem as tuas, os meus sonhos voam tão alto que já nem os encontro. A minha boca passeia por ti e os meus ouvidos sentem uma voz apaixonante.
Então continuo farto deste sítio, dos mosquitos lampeiros, da luminosidade e do barulho, mas agora tenho-te a preencher o vazio da minha mente. O buraco que outrora sangrava está cozido e nunca estive tão lúcido. Ainda agora começaste a batalha e já ganhaste a guerra. Agradeço-te por isso, por não me matares com o teu olhar, por me deixares observá-lo com atenção enquanto puder, porque estou apaixonado.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
A esperança
Como será isto possível se nada fazes por isso? Preferes sentar-te no sofá e sonhar, fechar os olhos e planear tudo: essa tua pequena vidinha perfeita; podes até lutar por ela, pela tua vida, ou pela tua felicidade, mas na realidade o que significa isso? Se não tens a esperança a guiar-te, é provável que te percas pelo caminho. Primeiro senta-te e sonha, projecta, depois levanta-te, caminha e age. Mas diz-me como posso fazer isto, se há algo, se existe algo em ti que me troca as voltas, que me põe de pernas para o ar, e que apesar de me encher de esperança, rapidamente ma tira num piscar de olhos, dando lugar a desilusão. Sempre que estás por perto, a voz treme, as pernas fraquejam, os olhos focam o chão, e o arrependimento enche-me os pensamentos. Arrependimento do que não fiz, do que fiz certo e devia ter errado, e de não te ter abraçado enquanto tive tempo. Por enquanto as pernas tremem, desapareceste. Por enquanto o queixo está cabisbaixo, não vais voltar. Por enquanto permaneço sentado, a ganhar a força, a vontade de continuar, a motivação. Já dizia o velho que a esperança é a última a morrer e se tudo o resto me falha, se tudo o resto desapareceu, a esperança continua, mesmo sem te ter aqui comigo, talvez dê para suportar a saudade.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Cinza
Agora jogas o Ás de Espadas, mas eu continuo o Rei de Copas, e já não tenho trunfos.
É injusto quanto tens os quarto ases na mão e já me destrunfaste desde o início. Não vou desistir, porque isto para mim já não se trata apenas de um jogo entre dois lunáticos. É agora a minha realidade distorcida que me faz arder os olhos cada vez que os abro para te espreitar, porque a tua cara de poker me assusta, que me faz tremer os lábios porque isto é um 'jogo' de silêncio, que me faz ouvir tudo. Por isso te peço: acaba de me destrunfar e leva o Rei de Copas para junto da sua Dama, ganhaste a batalha, quiçá a guerra, mas peço-te novamente para não te esqueceres: É à melhor de três e eu não assinei nenhuma rendição.
sábado, 2 de outubro de 2010
A necessidade
É estranho, tudo isto é simplesmente estranho, seres a única coisa à qual o meu disfarce parece não ser suficiente, seres a única pessoa capaz de quebrar as minhas defesas sem ter de se esforçar. Desesperadamente procuro auxílio em tudo o que posso encontrar. Pontes ou estradas, ventos ou mares, guerras ou escaramuças. Qualquer coisa serve para me entreter e me impedir de pensar em ti, para não ter a necessidade de te ver, de te ouvir, de te tocar, de te cheirar, de te ter. Tenho a certeza que fizeste um pacto com os cinco sentidos, sua cabra.
sábado, 4 de setembro de 2010
Um sentdo
So preciso de um sentido, uma direcçao a seguir, porque o que quer que faça, simplesmente nao me da o gozo que deveria dar, nao como da aos outros. Tudo e amargo e persigo todas as sensaçoes em busca de algo que me faça sentir e talvez encontrar um sentido. Por vezes caio em tampas de esgoto, quando apenas num infimo segundo, fico na Lua. E o suficiente para ser atingido por projecteis, uns afiados outros pesados e bem duros de roer. Outras vezes como rebuçados, fico com o açucar na boca e... deveria deliciar-me? Vejo toda a gente a lamber os labios de satisfaçao, a desembrulhar o proximo, ja com enormes quantidades de saliva a ser contida apenas pela boca fechada. E eu fico a olhar para eles. Sim, de facto um rebuçado e bom, e doce... Mas nao sentem falta de mais nada? Nao sentem falta de alguma amargura? de um sentimento frio e duro que nos choque, que nos deixe num estado de diferença e que nos mude? Nao e apenas uma questao de ser diferente, ou de querer ser diferente, mas tenho de ser fiel a mim mesmo, pelo menos, e tentar buscar aquilo que ainda nao descobri. Fico entao na Lua, a pensar se as tampas de esgoto sao tao mas como dizem, e se os rebuçados sao assim tao bons? Nao sei...
Tambem ja procurei montanhas-russas, estupefacientes, gritos, murros e nada parece satisfazer esta necessidade de encontrar o derradeiro sentimento e de fazer com que deixe de me sentir tao estranho. Tenho a certeza que nada disto vai parar. Quando encontrar o que procuro, vou sentir de novo o mesmo e tudo isto vai ser e mais dificil de saciar, mas hey, o que posso eu fazer? Nada. Ninguem senao eu sabe aquilo que sinto porque nao e passivel de ser traduzido por palavras devido a complexidade deste idioma corporal que nem eu sabia que podia sentir. Tentei dizer, tentei explicar, mas sempre sem exito. O unico conforto que tenho esta nos acordes, nos falsetes, nos timbres, nas vibraçoes e nas harmonias que oiço e que apesar de nao me indicarem um sentido, o meu sentido, ajudam-me a nunca desistir enquanto o procuro, todos os dias. Entretanto, o meu caminho continua e nao faço a minima ideia do que vou fazer a seguir, mas desistir nao e uma opçao, e continuar de cabeça baixa tambem nao. Independentemente daquilo que se seguir, daquilo que eu fizer ou disser ou decidir, sera em prol do meu futuro, de encontrar o sitio onde pertenço, o sitio onde nao me sinto estranho, onde nao ha tampas de esgoto nem rebuçados para escolher, mas existe um futuro para mim, um proposito, um sentido.
sábado, 21 de agosto de 2010
She
PS- Se quiserem a traduçao digam.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Carta
PS- Perdoem-me a falta de acentuaçao, mas o meu teclado esta com dificuldades tecnicas. Ja se juntou ao clube.
PS2- A serio, estou a tua espera. Nao temas.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
O voo
Preciso de um voo, porque a minha alma está presa. Por isso soltem-me, a mim e aos pássaros, a mim e aos morcegos que dançam pela penumbra. A mim e aos vampiros que vêm pela escuridão e te sugam o sangue e te abandonam sem piedade. Não me dêem pára-quedas porque já à muito que eu caí. Não me dêem asas de papel, porque eu rasgo-as e queimo-as como às tuas fotografias. Não preciso de soluções fáceis, de remendos nas roupas, quero apenas voar, daqui para fora. Demora o tempo que demorares, eu não tenho pressa, mas leva-me daqui para fora ou ensina-me a fazê-lo. Mas tens de ser tu a dizer: "Vai!" Serão as tuas palavras mágicas, que nunca disseste mas que eu anseio por ouvir, dia após dia, sem nunca me perder, ou à minha esperança.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Maresia
Leve, fresca, húmida. Por vezes cortante, mas sempre reconfortante. Todos têm um pequeno mundo interior onde pensam, decifram os enigmas, tentam lidar com as dificuldades e arranjar uma solução para os problemas. Tenho duas formas de fazer isto. A primeira traduz-se na música do Jorge Palma, a outra é a maresia. A sério, ver o Sol a esconder-se de nós, atrás de uma ténue linha longínqua, cada vez mais depressa faz-me pensar no tempo que estou a perder ao observá-lo a fugir, mas não tem importância. Ouvir a voz certa para nos reconfortar e sentir a maresia completam tudo. Já não dou importância à companhia, porque uma visão de areia do lado esquerdo, uma visão de areia do lado direito, o mar em frente e o Sol quase a alcançá-lo para se abraçarem e apagarem as luzes, é tudo o que eu podia pedir. Aí basta-me uma guitarra nos braços, para me sentir vivo, que tudo tem afinal um sentido e que o problemas se resolvem sozinhos se assim quisermos. Nunca precisamos de mais ninguém para ser felizes. Basta sermos quem somos e nunca nos arrependermos daquilo que somos e nos tornámos. Só temos de agradecer pelo que temos e lutar pelo que queremos. Não vou baixar os braços e deixar que me pisem, tenho a minha maresia, a minha guitarra e o meu mundo.
Se conseguires seguir tudo isto, ensina-me. Sempre tive uma enorme mania de achar que tudo gira à nossa volta, à minha volta, que tudo tem de passar por mim, apesar da minha enorme vontade de alterar isto. Da mesma forma que não conseguimos alterar as nossas necessidades, nunca nos conseguiremos alterar a nós próprios, e eu já não tenho respostas para todas essas perguntas - É impossível mudar. Se outrora achei que tudo era possível, sinto-me agora resignado, desmotivado, com vontade de ser apenas eu próprio, sem tentativas falhadas de me disfarçar de nada. Lembram-se, O Disfarce? Será que o esforço vale a pena? Preciso de mais uma maresia, pois só quando estou nela consigo responder a muitas destas perguntas. A maresia forte, cortante mas com uma humidade e frescura reconfortante no Verão. Eu sempre gostei de sentir o vento na cara, forte, leve, quente, cortante. A maresia é diferente, porque tem esta capacidade invejável de quando tudo é uma merda, me fazer conseguir sorrir, não para esconder nada, mas porque podia ser pior. Precisava de sentir a maresia todos os dias, sim, precisava.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
O medo
Sou aquele que faz tudo um pouco, mas faz pouca coisa muito bem. Nem burro nem brilhante. Terei então alguma característica que me distinga dos outros? Boa ou má, qualquer coisa serve para matar o meu medo, mas parece que não. Estará tudo bem se eu for sempre assim, morno? Ás vezes, penso: como seria se eu desaparecesse? Sentiriam a minha falta ou seria simplesmente "aquele que deu à sola"? De certeza que alguns sentiriam a minha falta, afinal a normalidade também dá alguns amigos. "Pelo menos tens alguns amigos..." dizem alguns. É verdade, mas o medo é geral, e não faz especificações. Todos os dias penso, e tento ganhar forças para enfrentar o medo, mas em vão. Os meus passos são muito lentos, porque não é essa a minha Natureza. Não fui feito para ser um gajo frio ou quente. Nunca vou marcar ninguém pela frieza, não gosto do frio. Nunca vou marcar ninguém pelo calor, não sou caloroso por Natureza. Sou morno, uma mistura esquisita das duas que é sinónimo da Normalidade. É isso que eu sou, um ser Normal? Vou ser marcado como o normal? É provável, e já passaram tantos anos, é difícil contrariar esta tendência. O que me resta então? Resta-me viver e esperar por alguém com uma visão afiada, capaz de distinguir seres normais entre tanta anormalidade que deambula por todo o lado. Se isso alguma vez acontecer, eu saberei que não estou sozinho, que não sou o único.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Suave
Se não for exagerar, quero-te agradecer, mesmo ainda antes de ter começado.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
O truque
terça-feira, 1 de junho de 2010
A explosão
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Para no desejo
Paralelo Infinito - Jorge Cruz
segunda-feira, 24 de maio de 2010
O engano
Eu só queria que um dia não tivesse de me arrepender, que corresse tudo como planeio vezes sem conta na minha cabeça de vento, que não precisasse de fazer nada porque com um simples olhar tu entendias tudo o que eu penso ou quero, que não houvessem mais enganos, mais erros, mais equívocos e que tudo fosse tão simples como não parece nem é.
Melhores dias virão.
terça-feira, 4 de maio de 2010
O porquê
Porque não simplesmente viver, puro e duro. Somos todos uns cobardes, ninguém tem coragem de o fazer, de largar tudo e viver somente para o que gosta. Quem o fez, não sabe o quanto eu os admiro. Vive, sente, gosta, sorri, gosta novamente. Era tudo o que eu queria. É assim tão difícil perceber o porquê? O porquê de vivermos? Vivemos para viver! Para viver, viver tudo com a maior intensidade possível. Seguir os nossos sonhos, realizá-los. O porquê da vida é não haverem porquês que não possamos responder com um outro porquê, deixando tudo em aberto. Tudo aquilo que foi deixado para trás, é trazido de volta com um fechar de olhos. Tudo aquilo que não vivemos, deitamos fora. Tudo aquilo que queremos, lutamos para ter. Momentos de felicidade eludida em todos os actos que fazemos é o mais importante. Todos procuram tanto e tanto a felicidade, a felicidade está em cada um de nós, a felicidade esta dentro de ti. Sabes que estás feliz quando sorris sem parar, quando estás bem assim e não precisas de mais nada, quando sentes que só agora é que a tua vida começou. A vida em si, é o maior dos porquês.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
A conversa
Foi a melhor conversa que já tive. Foi, pretérito perfeito. Novamente, tudo o que é bom acaba, até mesmo esta memória que guardo sem perder um detalhe. Contei exactamente quantas palavras a conversa teve. Tive de contar várias vezes para ter a certeza de que não me tinha enganado, seria inadmissível. Zero palavras, a nossa conversa teve zero palavras. Zero palavras, cinquenta e quatro sorrisos, trezentos e quarenta e dois beijos, cento e onze abraços e toques impossíveis de contar porque se confundiam com os deslizes da minha mão no teu corpo. Esta forma de falar parece-me muito mais humana, juro que não tive dificuldade de compreender o que sentias porque a tua alma era um espelho e eu via-me em ti. Seria errado guardar apenas as memórias boas. O final é sempre o que custa mais a guardar, mas é necessária para uma retrospectiva deste amor carnal. Da mesma forma que começou, esta conversa terminou, e eu nunca mais fui o mesmo. Tiraste-me a inocência, mas deste-me experiência. O teu calor vai ficar guardado melhor do que nunca. E não vou ter mais frio quando estiver sozinho. Quando saíste, a bolha de ar rebentou, molhou-me, humilhou-me. Da mesma forma que esta conversa começou, esta conversa acabou, e tudo mudou.
sábado, 10 de abril de 2010
A "Simples diferença"
Apetece-me gritar, para que repares em mim, mas assim seria facilmente descoberto e a minha nova musa desapareceria. Secretamente desejo que essa tua curiosidade aguçada me descubra, porque tenho a certeza que irias sorrir com uma descontracção implacável mas por enquanto continuarei no anonimato. É simples a forma como me afeiçoei a ti sem me esforçar. É simples o facto que contigo a simplicidade é constante. Fazes a diferença, és diferente de tudo o que já vi e conheci, e pela primeira vez, não me sinto frustrado. Quero abraçar toda essa tua diferença que faz de ti uma boneca única, mas simples numa loja de porcelanas chinesas, daquelas que parece que se vão partir com um sopro. Se eu conseguisse, simplificava tudo. Pareces tão feliz que é quase um crime não sorrir ao observar-te. És simples, e é isso que faz de ti especial. Fácil de compreender, fácil de gostar, se ao menos fosse tudo tão fácil como tu fazes parecer. Agradeço-te com um abraço invisível o facto de me teres simplificado, e por teres feito a diferença. Obrigado.
domingo, 28 de março de 2010
O começo
Quando começar de novo quero o mundo, quero a Lua, quero o Sol, quero toda a gente e não quero ninguém. Quando começar de novo quero alguém para não puderes voltar. Nem sei bem o que quero, quando começar de novo. Mas tenho a certeza de uma coisa, não te quero a ti.
sexta-feira, 12 de março de 2010
A mudança
Nunca signifiquei tanto para ti, como tu para mim, isso sei, ainda que secretamente sempre tenha tentado forçar os acontecimentos para que isso assim fosse. Não tens o direito de me prender ao passado, como uma âncora que não deixa um navio desembarcar do seu cais. És a bagagem que vou ter de deixar para trás, o barco não tem espaço suficiente. Peço desculpas, uma última vez, e reafirmo, esta é a última vez que me atormentas. Está na hora de deixar de pensar em ti, está na hora de fazer a mudança mais importante e difícil de sempre, o barco não tarda em partir, e tu, tu ficas em terra. Esta vai ser a minha aventura, a minha vida, da qual tu não farás parte. Sem ti. Não tenho como, nem quero controlar o futuro, mas o meu instinto diz-me, que este é o dia, o melhor dia que já tive. A saudade é traiçoeira, mas eu sou um mestre manipulador, e não me deixo enganar. Adeus, esta sim é a mudança, a minha mudança, e hei de ser eu mesmo, feliz.
quarta-feira, 10 de março de 2010
A confusão
Por detrás de um par de óculos de sol enormes e um cabelo longo liso e elegante esconde-se uma mulher já graúda, com mais experiências de vida do que a maioria dos idosos, já partilhou alegrias e tristezas e nada tem já a perder, mas no entanto resignou-se ao caos e a esta confusão desgraçada que altera até os mais improváveis! Luto para que comigo não seja assim, embora a tarefa se tenha revelado difícil. Tudo em redor é demasiado confuso para alguém tão sozinho como eu. Há momentos em que até um simples batimento cardíaco meu era capaz de enviar uma nave espacial à Lua. O ruído é enorme, mas ainda mais ensurdecedor cá dentro, onde as respostas que procuro estão tudo menos perto. Precisava de uns auscultadores, que me isolassem deste ruído, mas isso seria ceder, desistir, resignar-me, e recuso-me a fazê-lo. Contigo todo o calor volta, um sinal da tua presença faz com que toda a frieza, a confusão se desvaneça, posso agir naturalmente, erguer a cabeça, fazer o que me apetece e cumprimentar quem quero, e não só porque é bonito. Sinto que já não faço parte do exército de zombies, mas de um clube muito exclusivo que só te tem a ti como membro. Todo o calor que uma relação deveria ter volta ao suposto e a confusão faz uma pausa. O tempo suficiente para eu descansar e encontrar o lugar a que verdadeiramente pertenço.
sábado, 6 de março de 2010
A saudade
Há três verões que sinto a tua falta. Parece que é isto aquilo a que chamam saudade. Mas não sou egoísta, tenho perfeita noção de que estás melhor sem mim, quem sabe num sítio melhor. Gostava apenas que soubesses que tenho saudades tuas, e que a minha vida não está de maneira nenhuma melhor sem ti porque és insubstituível. Gostava que soubesses que te devo tanta coisa. Ajudaste-me a crescer, como homem e como pessoa e provavelmente nunca reparaste. A tua capacidade de transmitir confiança é tão grande que só de te observar eu já crescia e no entanto fazia-lo com tanta simplicidade e humildade que me punhas nervoso. Nunca fomos de muitas palavras, mas entre nós o silêncio substituía qualquer conversa, a sério: qualquer conversa. Gostava que soubesses que bem cá no fundo continuo a pensar em ti todos os dias e era capaz de trocar anos de vida só para te poder abraçar por uma última vez que nunca existiu. Não me arrependo de nada do que fiz, ou que tenhamos feito, mas gostava que soubesses que desde há três verões que não me sinto como me sentia contigo, porque me fazes falta, porque sinto saudade.
quinta-feira, 4 de março de 2010
A música
Quando estás zangada e gesticulas desalmadamente eu só te consigo observar a ti e aos teus gestos. É como se fosses um maestro a coordenar na mais perfeita das harmonias uma sinfonia no tom mais agudo e grave ao mesmo tempo, numa escala por ti inventada cuja chave apenas tu sabes. Todos esses pequenos músicos te são fiéis e eram capazes de te confiar a sua vida, afinal de contas vivem dentro de ti. Digo outra vez: tresandas a música. Nas ocasiões mais especiais, tocas jazz como se um saxofone romântico tocasse sozinho enquanto os meus lábios tocam os teus. O piano acompanha suavemente a balada sensual e dá-lhe um sabor diferente. Mas não, hoje não, hoje não me dês música, quero por uma vez não ficar atordoado por todo esse teu feeling carregado de força e rock N' roll. Hoje quero apenas que sejas minha, sem música a acompanhar, num ritmo slow. Prometo que depois tocas para mim a tua música, até porque é a única que realmente gosto de ouvir.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Society
You think you have to want more than you need
Until you have it all, you won't be free
Society, you're a crazy breed
I hope you're not lonely without me
Society, crazy and deep
I hope you're not lonely without me
When you want more than you have
You think you need
And when you think more than you want
Your thoughts begin to bleed
Society, have mercy on me
I hope you're not angry if I disagree
Society, crazy and deep
I hope you're not lonely without me
(Eddie Vedder - Society)
segunda-feira, 1 de março de 2010
A viagem
Tenho consciência das consequências que isso podia trazer. Talvez assim me entendessem melhor, o meu espírito livre e a minha vontade de simplesmente partir. Mas não, a minha vontade, por muito grande que seja, não é suficiente para acabar com esta cobardia que teima em não desaparecer, raios. Nem quando a felicidade está em jogo eu consigo livrar-me da cobardia e lutar por mim mesmo, é uma felicidade platónica. Não me falta nada, mas falta-me tudo. Tenho o que preciso mas não o que quero. Parece que a minha veia sonhadora se está a tornar gananciosa também, mas não quero saber. Também tenho noção de que a felicidade só é real quando partilhada com alguém e mesmo que eu a tivesse, não tinha com quem a partilhar, não te tinha a ti. Eras a peça-chave da derradeira viagem, a paisagem, os mantimentos, as botas, o chão, o mar, as nuvens, e por fim: tu. Tenho de admitir, era e é um sonho, e sempre será. Sei perfeitamente que não é possível, mas talvez sejas tu a chave para eu perder a cobardia que me impede de calçar as botas, que me impede de arrumar a mochila, talvez sejas tu aquilo que faz distinguir uma viagem d'A Viagem'
sábado, 27 de fevereiro de 2010
A paixão
Culpo os cinco sentidos por serem a ignição de uma paixão que só termina quando já não houver combustível. Culpo-os quando sinto pele de galinha e a teimosa dita borboleta voa dentro do meu estômago. Culpo-os quando esses teus olhos que escondem menos do que queres fazer parecer me matam ao trazer tudo o que poderia ter sido, mas não foi e quando um sussurro teu era capaz de fazer derreter um iceberg inteiro em pleno Inverno no Árctico. Culpo-os quando distingo o teu cheiro no meio de uma multidão e mesmo sem te ver, eu te consigo sentir ou quando sorris e todos olham para ti porque o teu sorriso é o mais brilhante de todos. Culpo os cinco sentidos, mas é certo que sem eles, eu não seria o mesmo. Ainda assim a culpa que detêm é evidente, estou forçado a gostar de ti. Esse feitiço que me lançaste à traição não permitiu sobrepor a lógica aos malditos cinco sentidos que me condenam a este fogo incansável ainda que inocente.
O Início
Já que não começámos da melhor forma, voltemos a'O Início', ao suposto fundamento do blog. Sobre mim, já sabem o suficiente. Interpretem como quiserem, julguem, critiquem, mandem beijinhos à família que está em França ou digam à mãe que estão na TV. Sobre o blog, é este mesmo, também já sabem para o que serve, apesar de eu não ter declaradamente afirmado, está implícito, e vocês sabem, ou julgam que sabem. Acho que vou ser simpático, e neste terceiro (e único post giro) dizer com todas as letras do teclado que é aqui um frustrado, cobarde como eu liberta tudo o que tem dentro e não quer, ou não consegue dizer em voz alta, nem quando está sozinho. É aqui que se esconde um foragido da realidade e mestre da ficção em alta definição. As vírgulas exageradas são uma característica chata, mas natural, habituem-se.
O sonho
De rojo, levam-me para o topo. Bem, não é certamente o topo que eu sempre quis, mas isso não é importante para vocês. De rojo, trouxeram-me, e vou de rojo, porque me recusei a ir, mas não tenho forças suficientes para vos contrariar. De rojo, arrastaram-me para o topo, quase como se tivesse essa obrigação. E se eu não quiser ir? O que é que isso interessa… Tenho de ir quer queira quer não. De rojo, mas ainda não completamente abatido, após uma luta de 18 anos, quero pelo menos fazer uma pergunta: Valeu a pena? Correu tudo como planeado? A sério, digam-me, valeu a pena? Provavelmente isso também não interessa, tal como a minha opinião não interessou. Enfim, já que estou condenado ao topo, nem que tenha de permanecer lá e rastejar, neste chão húmido e frio onde não posso lutar, choro, rio, deliro e tenho todo o tipo de ilusões.
Mas apesar da minha sanidade ter-se esvanecido à já tanto tempo, há algo que eu nunca cheguei a perder, algo que foi crescendo e crescendo com o tempo e que espero que se torne um dia forte suficiente para me livrar deste tormento. O sonho. O sonho de um dia estas correntes de preconceito e estas amarras de falta de respeito desaparecerem e vocês deixarem de agir como se eu fosse o espelho dos vossos projectos falhados. O sonho de um dia a minha existência ter algum valor, pelo menos mais do que aquilo que vale agora. O sonho de um dia não ter de andar de rojo, e de conseguir caminhar pelo meu próprio pé, poder descer estas escadas escorregadias e ficar bem cá em baixo, sem ser o alvo da vossa pressão e poder decidir por mim mesmo. O sonho de finalmente poder fazer o que gosto e ser quem sou. O sonho de poder chorar, rir, delirar sem ter de me preocupar com o que vocês pensam.
Mas entretanto, quanto tempo faltará para esse dia? O tempo nunca passou tão lentamente, cada bafo meu parece cada vez mais pesado, quanto mais aguentarei? De qualquer forma, até o meu sonho se tornar realidade, tenho de permanecer amarrado, fechado nesta cláusula. De rojo, passa mais um dia, de cabeça murcha, corpo com nódoas e hematomas causados pelos insultos e críticas que prontamente aceito sem ter sequer a chance de responder. De rojo, enfrento mais um dia nesta vida alegre e cheia de vida.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
O Disfarce
Disfarçe. Eu também tenho um disfarce. Aliás, tenho vários. Gosto de disfarçar-me de palhaço, com cara pintada de branco e um pequeno grande nariz vermelho e redondo que condiz com uma peruca de cabelo colorido e encaracolado. Dentro deste meu vasto guarda-roupa estão fatos como o de surfista, que consiste apenas de uns calções de banho, uma pele bronzeada e uns óculos-de-sol, o de intelectual, o de descontraído. Todos estes disfarces fazem um só grande disfarce que uso permanentemente. Uso-o por vários motivos. Contudo, nem sempre por boas razões. Mas porquê usar um disfarce?
Apercebi-me que eu sozinho não sirvo para agradar a tanta gente, não sirvo para agradar sequer a mim mesmo, o crítico mais severo e exigente na maioria das vezes. Sem o disfarce é como caminhar desnudo em frente de pessoas desconhecidas do sexo oposto, é como viajar sem passaporte ou andar sem pernas. Já faz parte de mim, e tenho pena que assim seja. Temo que me falte a coragem para o tirar, fora da solidão da minha mente, seria uma exposição enorme que provavelmente não me iria ajudar.
Este disfarce tem cortes e buracos de tantos anos de uso e começo a pensar se em vez de arranjar um novo não deveria simplesmente ver-me livre dele, e sentir-me livre. Mas depois volto a mim mesmo. O seu peso, é um peso ao qual já estou habituado e já carrego com uma indiferença inidentificável na maioria das vezes. Uma parte de mim deseja que o disfarce desapareça e que todos me olhem assim como sou sem ele, julguem o que tiverem a julgar. Uma parte de mim está disposta a correr esse risco. Estou em dúvida, se esse será o meu lado fraco, que não aguenta, ou o corajoso, que não teme. De qualquer das formas, isso não vai acontecer, pois sou ambos cobarde e fraco e essa desilusão seria tremenda.
Ainda se houvesse alguém que conseguisse ver através da máscara. Alguém que me olhasse nos olhos, e percebesse que por muito bom que seja o disfarce, eu nunca serei assim, alguém que me entenda e ainda assim resolva ficar comigo e não desista de mim, alguém que me ajude a tirar o disfarce, me dispa do medo e da fraqueza e me ajude a tornar naquilo que sou com ele, mas sem ter de o utilizar.