segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Noite e Dia

Farto de um sítio como este, onde os mosquitos nos sugam o sangue e vão lampeiros reluzir-se nos holofotes da ribalta, esvoaçando em trajectórias impossíveis de prever, como que competir pelo lugar mais perto da luz, quando o céu está escuro. Onde nem de noite os predadores diurnos descansam e me dão tréguas. Sempre preferi a noite pelo silêncio, pelo luar, pelo mistério. Mas a noite é traiçoeira e perigosa. Facilmente nos embebedam com conversas ultrapassadas e nos põem a vomitar de tanto lixo que engolimos. Ainda assim, a perigosa noite continua a ser a melhor e única alternativa ao dia que tem doze horas de luz. Aqui dentro, as doze horas são doze anos e continuam a não ser suficientes para resolver todos os problemas que existem aqui. À noite, os problemas descansam, refugiam-se e escondem-se e eu finalmente suspiro de alívio, até cair.

Agora diz-me quem és tu, que estás agora de pé, à minha frente. Olho-te fixamente e só de o fazer, sinto que não me és estranha. Fazes a transição entre a noite e o dia, entre o bem e o mal, e tens a chave do cadeado que prende os meus problemas. Levantas o braço graciosamente, e estende-lo na minha direcção. Eu impulsivamente recuo mas algo me fez parar. Abriste-a e os problemas começam a fugir. Surpreso eu começo a sorrir, afago-te o cabelo e a noite torna-se dia. Foste tu, sacana. Não sei como foste capaz de chegar, acontecer, fazer com que tudo desapareça e te tornares a resposta para tudo. Foda-se, absolutamente tudo! Dou um passo em frente e abraço-te desprovido de tudo aquilo que me prendia dantes. Tu fizeste o mesmo. Agora, que estou contigo as doze horas são doze minutos e o tempo não chega. Agora odeio a noite porque me priva de pensar em ti. Agora já não odeio mais nada, tenho as minhas explicações. O teu sorriso inocente deixa-me na dúvida se és realmente tão experiente como eu penso. A guerra com os sentidos acabou, eu ganhei, mas eles também. As minhas mãos preenchem as tuas, os meus sonhos voam tão alto que já nem os encontro. A minha boca passeia por ti e os meus ouvidos sentem uma voz apaixonante.

Então continuo farto deste sítio, dos mosquitos lampeiros, da luminosidade e do barulho, mas agora tenho-te a preencher o vazio da minha mente. O buraco que outrora sangrava está cozido e nunca estive tão lúcido. Ainda agora começaste a batalha e já ganhaste a guerra. Agradeço-te por isso, por não me matares com o teu olhar, por me deixares observá-lo com atenção enquanto puder, porque estou apaixonado.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A esperança

Também é necessária. Quando tudo desaba à nossa volta e aquilo que julgávamos dentro da nossa capacidade de controlo se afasta, de repente as peças do lego estão espalhadas pelo chão, temos de nos manter de pé, não vacilar e começar de novo. Falta motivação, falta força, falta vontade, falta até motivo, mas... é necessário. Tenho esperanças de um dia conseguir contrariar esta tendência natural para o fracasso. Amanhã é outro dia, talvez tão mau, talvez igual, talvez diferente, mas pelo menos não será o mesmo. Tenho esperanças de um dia conseguir encarar o futuro sem ter de sentir o passado de uma forma tão mais loucamente intensa do que sinto o presente, , como mandam os livros, tenho esperanças de conseguir olhar em diante, apenas em diante, onde é suposto eu estar. Mas sabes o que é que eu espero? Que me percebas, que me conheças, que me respeites, que me catives. Espero um dia conseguir erguer o queixo bem no ar enquanto ando sem que as minhas pernas tremam que nem varas verdes, que os meus passos sejam regulares, que a minha consciência esteja limpa.

Como será isto possível se nada fazes por isso? Preferes sentar-te no sofá e sonhar, fechar os olhos e planear tudo: essa tua pequena vidinha perfeita; podes até lutar por ela, pela tua vida, ou pela tua felicidade, mas na realidade o que significa isso? Se não tens a esperança a guiar-te, é provável que te percas pelo caminho. Primeiro senta-te e sonha, projecta, depois levanta-te, caminha e age. Mas diz-me como posso fazer isto, se há algo, se existe algo em ti que me troca as voltas, que me põe de pernas para o ar, e que apesar de me encher de esperança, rapidamente ma tira num piscar de olhos, dando lugar a desilusão. Sempre que estás por perto, a voz treme, as pernas fraquejam, os olhos focam o chão, e o arrependimento enche-me os pensamentos. Arrependimento do que não fiz, do que fiz certo e devia ter errado, e de não te ter abraçado enquanto tive tempo. Por enquanto as pernas tremem, desapareceste. Por enquanto o queixo está cabisbaixo, não vais voltar. Por enquanto permaneço sentado, a ganhar a força, a vontade de continuar, a motivação. Já dizia o velho que a esperança é a última a morrer e se tudo o resto me falha, se tudo o resto desapareceu, a esperança continua, mesmo sem te ter aqui comigo, talvez dê para suportar a saudade.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Cinza

Não tires uma foto, tem sido um mau dia. Uma péssima semana, um mês terrível e um ano desastroso. Afasta a tua objectiva, está demasiado perto. O que é que queres de mim se não levaste já tudo? Afastaste-te, construíste-te de novo sozinha, fizeste-me a vontade. Agora que tudo devia estar bem, piorou. Preciso de silêncio, de um dia livre de multidões e caos, de um dia cinzento e sem alegrias que o corrompam. De um dia em que o fumo se confunda com as nuvens e que o nevoeiro esteja tão baixo que me sirva de camuflagem, para eu poder acabar o jogo. Só peço um dia de cinza, para esta nuvem que está dentro da minha cabeça começe a pedir boleias para fora e eu finalmente consiga pensar direito. A puta da nuvem já inchou, já está negra, já trovejou e já inundou literalmente qualquer tipo de jogo que eu tivesse para encartar.

Agora jogas o Ás de Espadas, mas eu continuo o Rei de Copas, e já não tenho trunfos.

É injusto quanto tens os quarto ases na mão e já me destrunfaste desde o início. Não vou desistir, porque isto para mim já não se trata apenas de um jogo entre dois lunáticos. É agora a minha realidade distorcida que me faz arder os olhos cada vez que os abro para te espreitar, porque a tua cara de poker me assusta, que me faz tremer os lábios porque isto é um 'jogo' de silêncio, que me faz ouvir tudo. Por isso te peço: acaba de me destrunfar e leva o Rei de Copas para junto da sua Dama, ganhaste a batalha, quiçá a guerra, mas peço-te novamente para não te esqueceres: É à melhor de três e eu não assinei nenhuma rendição.

sábado, 2 de outubro de 2010

A necessidade

Provém do hábito, da habituação, da monotonia e da melancolia, é quase um vício, uma dependência. Necessidade de falar, raramente a tenho, necessidade de ouvir, ainda menos. Existem tantas coisas para 'necessitar', coisas que já fazem parte da vida em si, e cuja mesma não existiria sem elas. Sem sofrer grandes alterações, são as necessidades que marcam a diferença, boas ou más. Maioritariamente más, porque é que precisamos de comer, porque é que sentimos a necessidade de falar, ou de fumar, ou de ser reconhecidos, ou de sorrir. É uma dependência, cada um tem a sua, ou suas, pois uma nunca vem só. Evito ao máximo tudo aquilo que me cause uma necessidade posterior, por isso encho bem o estômago, para não ter fome, falo comigo na minha cabeça, horas a fio, para não ser um fala-barato, mas tenho uma necessidade para a qual não consigo arranjar solução, pôr paninhos quentes ou remendar com uma agulha. Podia tentar tapar os olhos sempre que me apareces, mas depois perder-te-ia para a escuridão. Podia tentar tapar os ouvidos cada vez que abres a boca para falar, mas estaria cada vez mais longe do mar. Podia tentar tapar o nariz sempre que estou ao teu lado, mas nem assim o cheiro desapareceria das minhas roupas. Podia tentar não te tocar, podia tentar que não fosses minha amiga, e desaparecesses, mas és o pólo positivo do íman que puxa os negativos como eu.

É estranho, tudo isto é simplesmente estranho, seres a única coisa à qual o meu disfarce parece não ser suficiente, seres a única pessoa capaz de quebrar as minhas defesas sem ter de se esforçar. Desesperadamente procuro auxílio em tudo o que posso encontrar. Pontes ou estradas, ventos ou mares, guerras ou escaramuças. Qualquer coisa serve para me entreter e me impedir de pensar em ti, para não ter a necessidade de te ver, de te ouvir, de te tocar, de te cheirar, de te ter. Tenho a certeza que fizeste um pacto com os cinco sentidos, sua cabra.

sábado, 4 de setembro de 2010

Um sentdo

"Tudoaquiloqueprocuroeumsentidonestesitiofrioeinospitoporvezestraiçoeiroaquechamamosmundo."

So preciso de um sentido, uma direcçao a seguir, porque o que quer que faça, simplesmente nao me da o gozo que deveria dar, nao como da aos outros. Tudo e amargo e persigo todas as sensaçoes em busca de algo que me faça sentir e talvez encontrar um sentido. Por vezes caio em tampas de esgoto, quando apenas num infimo segundo, fico na Lua. E o suficiente para ser atingido por projecteis, uns afiados outros pesados e bem duros de roer. Outras vezes como rebuçados, fico com o açucar na boca e... deveria deliciar-me? Vejo toda a gente a lamber os labios de satisfaçao, a desembrulhar o proximo, ja com enormes quantidades de saliva a ser contida apenas pela boca fechada. E eu fico a olhar para eles. Sim, de facto um rebuçado e bom, e doce... Mas nao sentem falta de mais nada? Nao sentem falta de alguma amargura? de um sentimento frio e duro que nos choque, que nos deixe num estado de diferença e que nos mude? Nao e apenas uma questao de ser diferente, ou de querer ser diferente, mas tenho de ser fiel a mim mesmo, pelo menos, e tentar buscar aquilo que ainda nao descobri. Fico entao na Lua, a pensar se as tampas de esgoto sao tao mas como dizem, e se os rebuçados sao assim tao bons? Nao sei...

Tambem ja procurei montanhas-russas, estupefacientes, gritos, murros e nada parece satisfazer esta necessidade de encontrar o derradeiro sentimento e de fazer com que deixe de me sentir tao estranho. Tenho a certeza que nada disto vai parar. Quando encontrar o que procuro, vou sentir de novo o mesmo e tudo isto vai ser e mais dificil de saciar, mas hey, o que posso eu fazer? Nada. Ninguem senao eu sabe aquilo que sinto porque nao e passivel de ser traduzido por palavras devido a complexidade deste idioma corporal que nem eu sabia que podia sentir. Tentei dizer, tentei explicar, mas sempre sem exito. O unico conforto que tenho esta nos acordes, nos falsetes, nos timbres, nas vibraçoes e nas harmonias que oiço e que apesar de nao me indicarem um sentido, o meu sentido, ajudam-me a nunca desistir enquanto o procuro, todos os dias. Entretanto, o meu caminho continua e nao faço a minima ideia do que vou fazer a seguir, mas desistir nao e uma opçao, e continuar de cabeça baixa tambem nao. Independentemente daquilo que se seguir, daquilo que eu fizer ou disser ou decidir, sera em prol do meu futuro, de encontrar o sitio onde pertenço, o sitio onde nao me sinto estranho, onde nao ha tampas de esgoto nem rebuçados para escolher, mas existe um futuro para mim, um proposito, um sentido.

sábado, 21 de agosto de 2010

She

"You may not be her first, her last, or her only. She loved before she may love again. But if she loves you now, what else matters? She's not perfect - you aren't either, and the two of you may never be perfect together but if she can make you laugh, cause you to think twice, and admit to being human and making mistakes, hold onto her and give her the most you can. She may not be thinking about you every second of the day, but she will give you a part of her that she knows you can break - her heart. So don't hurt her, don't change her, don't analyze and don't expect more than she can give. Smile when she makes you happy, let her know when she makes you mad, and miss her when she's not there."-Bob Marley

PS- Se quiserem a traduçao digam.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Carta

Nao, esta nao e uma carta de amor. Nao e amor, nem odio, nem revolta nem angustia. Nao e nada. Estou-te a escrever simplesmente porque posso e porque sei que o que quer que aqui escreva ja alguem o sabe. E uma carta pequena, porque nunca foi o meu destino ser grande, nem nunca quiseste que eu o fosse. Esta carta marca um novo inicio, onde provavelmente, contra todas as aprendizagens, vou cometer exactamente os mesmos erros que ja cometi tantas vezes, mesmo tendo noçao disso. Mas os erros nao sao maus. Porque e que todos tem medo de errar, explicas-me? Eu tenho muito mais medo de nao saber que errei. Começar de novo e sempre bom, se desse para apagar o passado, fazer reset e começar de novo com o que aprendemos. Gostava de poder um dia sair a rua com alegria e mostra-lo a toda a gente, mas preciso de ti. Quando receberes isto, vem ter comigo e le-me tudo em voz alta, talvez mais do que uma vez para eu ter a certeza que es tu. Sim, com tanta mudança, eu esqueço-me do que tenho e nao posso nem quero perder. De um lado tenho tudo aquilo que fui conquistando como um rei, merecendo cada coisa. Do outro tenho-te a ti. Tenho mesmo de escolher? O meu ideal de mudança passava por uma nova vida, mas contigo, porque por muito bom que tudo isto seja, por muito feliz que seja, ou pense ser, ignorando todas as etiquetas que saltam e dizem "Cliche", nada disto faz sentido sem ti, e no entanto consegues com que eu fosse capaz de dar tudo para te ter (ao meu lado), se isso fosse possivel. Nao posso ir ter contigo, por isso te escrevo esta carta, esta especie de carta que tu provavelmente les com um sorriso e arrumas no bolso antes de te levantares da cadeira e fazeres a estrada.


PS- Perdoem-me a falta de acentuaçao, mas o meu teclado esta com dificuldades tecnicas. Ja se juntou ao clube.

PS2- A serio, estou a tua espera. Nao temas.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O voo

Deitado, ou de pé, olhar o céu e sonhar sempre foi um passatempo. Invejei de uma forma série a maneira livre como os pássaros se movimentavam tão facilmente pelo espaço aéreo livremente e sem preocupação. E os aviões, monstros metálicos tão colossais e pesados bem lá no alto. Como é que conseguem (e eu não)? O homem nunca foi feito para voar, aliás o homem nunca foi feito, o homem fez-se. E porque é que o homem nunca quis voar e se resignou ao domínio da terra. Eu pelo contrário nunca fui um sujeito passivo, sempre quis voar, pelo menos saber como o fazer. A necessidade de um voo esteve sempre cá dentro, especialmente agora que já não olho nem os pássaros nem os aviões. Os meus sonhos, porém voam mais alto do que qualquer objecto voador, identificado ou não. Por isso nunca tive um pássaro ou dois, não se pode "ter" pássaros. Eles nunca nos pertenceram, nem hão-de pertencer. Sinto-me preso quando os vejo, a minha gaiola é maior mas mais cruel. Não compreendo o porquê de prender os pássaros. É inveja? Inveja de não poderem levantar voo com um pequeno bater de asas imediato?

Preciso de um voo, porque a minha alma está presa. Por isso soltem-me, a mim e aos pássaros, a mim e aos morcegos que dançam pela penumbra. A mim e aos vampiros que vêm pela escuridão e te sugam o sangue e te abandonam sem piedade. Não me dêem pára-quedas porque já à muito que eu caí. Não me dêem asas de papel, porque eu rasgo-as e queimo-as como às tuas fotografias. Não preciso de soluções fáceis, de remendos nas roupas, quero apenas voar, daqui para fora. Demora o tempo que demorares, eu não tenho pressa, mas leva-me daqui para fora ou ensina-me a fazê-lo. Mas tens de ser tu a dizer: "Vai!" Serão as tuas palavras mágicas, que nunca disseste mas que eu anseio por ouvir, dia após dia, sem nunca me perder, ou à minha esperança.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Maresia


Leve, fresca, húmida. Por vezes cortante, mas sempre reconfortante. Todos têm um pequeno mundo interior onde pensam, decifram os enigmas, tentam lidar com as dificuldades e arranjar uma solução para os problemas. Tenho duas formas de fazer isto. A primeira traduz-se na música do Jorge Palma, a outra é a maresia. A sério, ver o Sol a esconder-se de nós, atrás de uma ténue linha longínqua, cada vez mais depressa faz-me pensar no tempo que estou a perder ao observá-lo a fugir, mas não tem importância. Ouvir a voz certa para nos reconfortar e sentir a maresia completam tudo. Já não dou importância à companhia, porque uma visão de areia do lado esquerdo, uma visão de areia do lado direito, o mar em frente e o Sol quase a alcançá-lo para se abraçarem e apagarem as luzes, é tudo o que eu podia pedir. Aí basta-me uma guitarra nos braços, para me sentir vivo, que tudo tem afinal um sentido e que o problemas se resolvem sozinhos se assim quisermos. Nunca precisamos de mais ninguém para ser felizes. Basta sermos quem somos e nunca nos arrependermos daquilo que somos e nos tornámos. Só temos de agradecer pelo que temos e lutar pelo que queremos. Não vou baixar os braços e deixar que me pisem, tenho a minha maresia, a minha guitarra e o meu mundo.

Se conseguires seguir tudo isto, ensina-me. Sempre tive uma enorme mania de achar que tudo gira à nossa volta, à minha volta, que tudo tem de passar por mim, apesar da minha enorme vontade de alterar isto. Da mesma forma que não conseguimos alterar as nossas necessidades, nunca nos conseguiremos alterar a nós próprios, e eu já não tenho respostas para todas essas perguntas - É impossível mudar. Se outrora achei que tudo era possível, sinto-me agora resignado, desmotivado, com vontade de ser apenas eu próprio, sem tentativas falhadas de me disfarçar de nada. Lembram-se, O Disfarce? Será que o esforço vale a pena? Preciso de mais uma maresia, pois só quando estou nela consigo responder a muitas destas perguntas. A maresia forte, cortante mas com uma humidade e frescura reconfortante no Verão. Eu sempre gostei de sentir o vento na cara, forte, leve, quente, cortante. A maresia é diferente, porque tem esta capacidade invejável de quando tudo é uma merda, me fazer conseguir sorrir, não para esconder nada, mas porque podia ser pior. Precisava de sentir a maresia todos os dias, sim, precisava.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O medo

O medo é o sentimento mais puro. Raios, o mais puro. O mais puro e provavelmente aquele que todos temem, porque só o seu nome dá medo, O Medo. Todos têm medo, a única diferença é que uns fingem melhor do que outros. Eu sei bem quando finges, quando começas a barafustar, gritar, elevar o tom de voz. Porque o fazes, o que temes? Eu estarei sempre contigo mesmo que não estaremos juntos. O meu maior medo é enorme, e é um medo racional. Não é comparável ao medo das alturas, ou de estar fechado em sítios apertados. É um medo consciente, mas que ao mesmo tempo não posso controlar. É fodido porque não posso mostrar que o tenho. Tenho de fingir que tenho medo de ter medo. Não tenho medo de ter medo, simplesmente tenho um medo. Um simples e insignificante medo que me impede de prosseguir com o coisas que não me devia preocupar. Nunca sentiram que a vida vos está a passar ao lado? Que escolheram a zona neutra para viver? Que ninguém vos dá importância porque vão ficar sempre no meio de tudo. Ora este é o meu pior dos pesadelos. O meu lado boémio diz-me para não me envolver demasiado, para aproveitar as pequenas coisas, mas no fundo aquilo que eu mais quero é reconhecimento, atenção. Sempre estive no intermédio, sempre vivi no Outono, sempre gostei de tudo e nunca detestei nada. O meu medo é o de ficar para sempre como 'O tipo normal' aquele que está lá, mas nunca ninguém presta grande atenção. Nem alto nem baixo, nem gordo nem magro, nem bonito nem feio, nem extrovertido nem introvertido, o que sou eu afinal?

Sou aquele que faz tudo um pouco, mas faz pouca coisa muito bem. Nem burro nem brilhante. Terei então alguma característica que me distinga dos outros? Boa ou má, qualquer coisa serve para matar o meu medo, mas parece que não. Estará tudo bem se eu for sempre assim, morno? Ás vezes, penso: como seria se eu desaparecesse? Sentiriam a minha falta ou seria simplesmente "aquele que deu à sola"? De certeza que alguns sentiriam a minha falta, afinal a normalidade também dá alguns amigos. "Pelo menos tens alguns amigos..." dizem alguns. É verdade, mas o medo é geral, e não faz especificações. Todos os dias penso, e tento ganhar forças para enfrentar o medo, mas em vão. Os meus passos são muito lentos, porque não é essa a minha Natureza. Não fui feito para ser um gajo frio ou quente. Nunca vou marcar ninguém pela frieza, não gosto do frio. Nunca vou marcar ninguém pelo calor, não sou caloroso por Natureza. Sou morno, uma mistura esquisita das duas que é sinónimo da Normalidade. É isso que eu sou, um ser Normal? Vou ser marcado como o normal? É provável, e já passaram tantos anos, é difícil contrariar esta tendência. O que me resta então? Resta-me viver e esperar por alguém com uma visão afiada, capaz de distinguir seres normais entre tanta anormalidade que deambula por todo o lado. Se isso alguma vez acontecer, eu saberei que não estou sozinho, que não sou o único.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Suave

A suavidade. Tanto para falar, tanto para dizer, mas cuidado, tem de ser suave. É um requisito. Tudo começa suavemente, com movimentos curtos e suaves dos teus braços, das tuas mãos. A suavidade é uma virtude. Ninguém gosta de uma depressão que não seja suave. Daquelas que vivemos sozinhos. Essas são as melhores, porque podemos dar o nosso lado suave aos outros e ficar com o nosso lado áspero só para nós. Toca-me suavemente, mas solta-me de seguida, a suavidade não perdura e é a sua efemeridade que a torna tão especial. É difícil de conseguir e não vale a pena ser forçada. Só os seres mais divinos conseguem ser suaves sem o fingir. E adivinha lá o que és tu? Exactamente, és suave, e eu quero-te suave. Quero o teu lado suave e quente, mesmo apesar de ser Verão. Mesmo que dês aos outros a amargura, eu sou egoísta, sempre fui, e quero essa suavidade só para mim. Como mais ninguém, a tua existência já é suave. Um sorriso, um beijo, um final para tudo. Dá-me um final suave. Só te peço uma coisa, não pares até estar tudo acabado, até eu me render. Eu garanto que vou ficar aqui até deixares de ser suave, até o teu toque já ser áspero e o teu sorriso ser forçado. aprecio a tua independência, é impossível prender alguém assim, e eu não tenho forças sequer para tentar.

Se não for exagerar, quero-te agradecer, mesmo ainda antes de ter começado.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O truque

Hoje percebi a tua maneira de funcionar. Percebi finalmente que és má, gostas de o ser e nunca desejarias deixar de o ser. Então explica-me como é que podes significar tanto? As definições de bom e mau, de bem e mal, estão trocadas. Porque é que o que é mau tem tendência a nos atrair quando nos deveríamos afastar? Porque no fundo é bom. Tu és boa? Duvido. Então porque é que cada vez que me torces o nariz ou contrarias gosto mais de ti? Pára! Pára de ser assim. Odeio isso, e odeio-te por isso. Odeio especialmente o facto de usares esses teus truques reles e baixos que sabes que me afectam. Fá-lo de propósito, gostas de atenção, e sabes como me agarrar. Não sei que feitiço é este em que estou preso, não sei se és tu a feiticeira, mas conheço os teus truques tão bem quanto tu me conheces a mim. Por isso pára com a magia, pára com esses truques de ilusionismo, eu já descobri tudo, e não gosto de ser enfeitiçado.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A explosão

Nunca se sentiram a explodir, caros amigos? Nunca se sentiram como se dentro de vós, já só restassem os nervos suficientes para vos capacitarem de executar movimentos. Os únicos movimentos que precisam para se moverem? Pois eu já, sinto-me sempre assim, todos os dias, todas as noites, sempre, foda-se. É a explosão interior que me dá esta vontade de explodir também no exterior, mas assim tornar-me ia numa autêntica bomba nuclear, e demasiada gente ficaria magoada e incomodada com tanta coisa que eu sei, e talvez deveria até dizer. Dá-me uma vontade gigante de torcer, rasgar, morder, esmurrar, destruir, partir, dominar, magoar e dar ao mundo a conhecer este pequeno monstro que vive dentro de mim. Quando eu estivesse em vias de explodir, tenho a certeza que viria alguém e me desactivava antes, o Denzel Washington ou a Maria Joaquina: sou muito perigoso, e demasiado precioso. Mas não quero ser assim, merda, não quero o meu corpo em batalhas e guerras Psico-físicas constantes que resultam no meu mau humor, ainda que dificilmente identificável. Tenham cuidado, eu sou perigoso, pensem antes de fazer algo, eu vejo e calo, mas dentro de mim explode mais uma bomba-relógio que activou muitas outras com as réstias da sua pólvora. Um dia, a explosão não é apenas interior, e aí conhecerão alguém de quem não se vão querer lembrar.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Para no desejo

"(...)Sentas-te na cama, eu canto uma canção sobre as coisas serem o que são. Fumamos à varanda com a lua a subir, tu danças no escuro, fazes-me sorrir. Largas roupas pelo meu chão, tens o mundo todo na mão. E sempre que te vejo, é, eu deixo de respirar. Paro no desejo de que o teu beijo me encontre e não quero acordar. Partimos em viagem, paramos para dormir, sussurras-me umas coisas que eu nem posso repetir. Até que um dia, tu deténs-te por momentos num sinal, dás mais umas piruetas mas já nada é igual. Perguntas-te o que pode estar para acontecer, e não parece difícil de saber. Agora tu estás longe, encontraste onde ficar e eu não, não me posso queixar. Acordo com o sol, refresco com o ar, vivo do que a vida tem para me dar."

Paralelo Infinito - Jorge Cruz

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O engano

Enganei-me. Toda a gente se engana, errar é humano, dizem. Realmente, se olhar para trás a única coisa que consigo ver são erros atrás de erros, enganos atrás de enganos, equívocos atrás de equívocos. Mas curiosamente nunca me arrependi. O arrependimento não é uma característica minha, simplesmente tenho demasiado orgulho para me arrepender de algo que fiz, mesmo tendo a noção que estava errado. Por outro lado, arrependo-me constantemente, quase diariamente, quase a cada clic que o relógio faz a marcar o segundo que passou. Mas arrependo-me do que não fiz, arrependo-me de me ter enganado e de não ter tido coragem de pedir desculpa, arrependo-me de não ter pegado em ti e fugido para um país tão longínquo que faria parecer o Cambodja o vizinho do lado. Mas arrependo-me ainda mais, de não conseguir corrigir os arrependimentos que me assombram e batem e espancam o dia todo, a noite toda, minuto a minuto, segundo a segundo, a cada clic do relógio. Por muito que queira, não consigo fazer nada, não me está no sangue. Bem, é melhor para de culpar os genes, cada um é dono de si próprio, e acho que fiquei mal amestrado.
Eu só queria que um dia não tivesse de me arrepender, que corresse tudo como planeio vezes sem conta na minha cabeça de vento, que não precisasse de fazer nada porque com um simples olhar tu entendias tudo o que eu penso ou quero, que não houvessem mais enganos, mais erros, mais equívocos e que tudo fosse tão simples como não parece nem é.

Melhores dias virão.

terça-feira, 4 de maio de 2010

O porquê

Sempre me perguntei porque é que passamos toda a nossa vida a fazer coisas mornas. O intermédio não está certo: ou quente ou frio. Porque é que passamos toda a vida a fazer coisas que não gostamos, só para no futuro podermos fazer outras coisas que às vezes nem gostamos? Ninguém gosta de ir à escola. Andamos desde pequenos a estudar a matemática, o português, a nossa História e queixamo-nos. Queixamo-nos tanto que até os pinguins e os ursos polares da neve acabam por levar por tabela. Queixamo-nos tanto que os leões da savana são cada vez menos. Ao longo da nossa vida, somos uns queixosos, odiamos as aulas, odiamos o básico, odiamos o secundário e chegamos a um ponto que até a Faculdade que era supostamente a nossa vocação, é detestada. Quando estamos a trabalhar odiamos o emprego, odiamos o patrão e os colegas e simplesmente tudo aquilo não é para nós. Porque é que nos sujeitamos a isto? Para não passar fome, dirão muitos. Para ter uma vida melhor, dirão outros. Nada disto faz sentido para mim. Porquê sujeitarmo-nos a toda uma vida de infelicidade por uns míseros anos bem acomodados no sofá? Porque não vivermos intensamente, aproveitar todos os momentos, viver com calor, com frio, com tristeza, com alegria, fazer o que nos faz feliz, estar com quem nos alegra, seguir aquilo por que estamos apaixonados?

Porque não simplesmente viver, puro e duro. Somos todos uns cobardes, ninguém tem coragem de o fazer, de largar tudo e viver somente para o que gosta. Quem o fez, não sabe o quanto eu os admiro. Vive, sente, gosta, sorri, gosta novamente. Era tudo o que eu queria. É assim tão difícil perceber o porquê? O porquê de vivermos? Vivemos para viver! Para viver, viver tudo com a maior intensidade possível. Seguir os nossos sonhos, realizá-los. O porquê da vida é não haverem porquês que não possamos responder com um outro porquê, deixando tudo em aberto. Tudo aquilo que foi deixado para trás, é trazido de volta com um fechar de olhos. Tudo aquilo que não vivemos, deitamos fora. Tudo aquilo que queremos, lutamos para ter. Momentos de felicidade eludida em todos os actos que fazemos é o mais importante. Todos procuram tanto e tanto a felicidade, a felicidade está em cada um de nós, a felicidade esta dentro de ti. Sabes que estás feliz quando sorris sem parar, quando estás bem assim e não precisas de mais nada, quando sentes que só agora é que a tua vida começou. A vida em si, é o maior dos porquês.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A conversa

Foi com uma pequena conversa que tudo começou. Essa conversa durou o tempo que uma lareira demora a apagar, sem mão humana, simples, natural. Um turbilhão de emoções passou por mim deixando paz, serenidade e uma séria despreocupação, mas tirou-me aquilo que eu mais queria, a minha inocência. O meu corpo mudou, habituou-se ao calor constante que ambientava a nossa conversa e a minha mente limpou-se, deixou-me concentrado apenas no que devia ser feito. Foi a primeira conversa que tive contigo, tão mágica. Porém tudo o que é bom, tem de acabar. Eu nunca quis que acabasse, por egoísmo ou por teimosia conversei, conversei até já não ter voz para dizer nem mais uma palavra e fiquei deliciado quando me apercebi que estavas a fazer exactamente a mesma coisa, por mim. Perdi a conta das horas que passámos a conversar, porque naquela bolha de ar, o tempo pára. Aquilo que mais me surpreendeu foi a doçura da tua voz, que ecoava de uma forma amarga aleatoriamente pela Via Láctea.


Foi a melhor conversa que já tive. Foi, pretérito perfeito. Novamente, tudo o que é bom acaba, até mesmo esta memória que guardo sem perder um detalhe. Contei exactamente quantas palavras a conversa teve. Tive de contar várias vezes para ter a certeza de que não me tinha enganado, seria inadmissível. Zero palavras, a nossa conversa teve zero palavras. Zero palavras, cinquenta e quatro sorrisos, trezentos e quarenta e dois beijos, cento e onze abraços e toques impossíveis de contar porque se confundiam com os deslizes da minha mão no teu corpo. Esta forma de falar parece-me muito mais humana, juro que não tive dificuldade de compreender o que sentias porque a tua alma era um espelho e eu via-me em ti. Seria errado guardar apenas as memórias boas. O final é sempre o que custa mais a guardar, mas é necessária para uma retrospectiva deste amor carnal. Da mesma forma que começou, esta conversa terminou, e eu nunca mais fui o mesmo. Tiraste-me a inocência, mas deste-me experiência. O teu calor vai ficar guardado melhor do que nunca. E não vou ter mais frio quando estiver sozinho. Quando saíste, a bolha de ar rebentou, molhou-me, humilhou-me. Da mesma forma que esta conversa começou, esta conversa acabou, e tudo mudou.

sábado, 10 de abril de 2010

A "Simples diferença"

Quando mais te olho, mais fascinado fico quando me apercebo da quantidade de variados sentimentos que conseguimos ter. A ausência de uma intensidade à qual estou habituado em tudo o que sinto, revela-se tão boa que é como se sempre a tivesse tido dentro de mim. O descomprometimento de ninguém faz de ti o alvo favorito do meu telescópio. Deambulas lá no alto e brilhas tanto. Não faço ideia o que tens de especial, mas sei que és especial. A tua simplicidade é tudo o que te basta para eu pôr tudo de parte, só para passar horas a sonhar. Não és especial mas és diferente de tudo o que conheci até agora e devo-te um chorudo agradecimento por me teres mostrado que há muito mais para além deste bosque sombrio. Simples e diferente, são as únicas palavras que consigo encontrar para te classificar de forma justa. A graciosa, impetuosa forma como te mexes parece-me como se visse tudo em câmara lenta, para poder observar cada gesto, cada pose, cada tique. A tua graciosidade confunde-se com uma implacável vontade de ser o mais prática possível tornando-te por isso, graciosa. A tua simples e humilde maneira de falar faz de ti diferente de tudo o resto, e tu provavelmente nem sonhas. Não possuis uma beleza incontestável, mas és diferente. De uma forma diferente, tudo o que em ti não é belo deixa de ter importância quando sorris.

Apetece-me gritar, para que repares em mim, mas assim seria facilmente descoberto e a minha nova musa desapareceria. Secretamente desejo que essa tua curiosidade aguçada me descubra, porque tenho a certeza que irias sorrir com uma descontracção implacável mas por enquanto continuarei no anonimato. É simples a forma como me afeiçoei a ti sem me esforçar. É simples o facto que contigo a simplicidade é constante. Fazes a diferença, és diferente de tudo o que já vi e conheci, e pela primeira vez, não me sinto frustrado. Quero abraçar toda essa tua diferença que faz de ti uma boneca única, mas simples numa loja de porcelanas chinesas, daquelas que parece que se vão partir com um sopro. Se eu conseguisse, simplificava tudo. Pareces tão feliz que é quase um crime não sorrir ao observar-te. És simples, e é isso que faz de ti especial. Fácil de compreender, fácil de gostar, se ao menos fosse tudo tão fácil como tu fazes parecer. Agradeço-te com um abraço invisível o facto de me teres simplificado, e por teres feito a diferença. Obrigado.

domingo, 28 de março de 2010

O começo

Um começo. Começar de novo tem muitas implicações, mas a principal é saber lidar com a mudança. Será que serei capaz de começar de novo? Quem sabe, talvez eu arranje forças novas, faça batota e este começo tenha umas pequenas raízes no passado, que me vão dando água e minerais suficientes para eu não me esquecer. O dilema é grande, mas tenho de colher o que semeei. O meu barco já partiu à tanto tempo, e porque raio é que eu ainda continuo a ver-te quando miro o horizonte, quando olho para alguém, ou quando fecho os olhos e adormeço por alguns instantes. Permanecerei aqui, nesta viagem sem destino. Já não me sinto confortável, perdi o meu porto de abrigo, sinto-me como um jovem marinheiro que vê a mãe chorar porque sabe que nunca mais o vai ver. Mas foi um sacrifício necessário, e agora zarpo a todo o vapor por todo o mundo, até finalmente ver as borboletas do Japão, os leões africanos, os cangurus australianos e os búfalos americanos. Pela primeira vez na vida, isto é algo que posso controlar. O barco só para quando eu quiser, quando o meu coração mandar. Até lá, vou rabiscando este caderno de papel amarelado, escrevendo pequenas letras umas atrás das outras, limpando a minha memória de ti. Foste a droga mais viciante, mas a minha força de vontade é mais forte do que tu, isso te garanto. Mantém-te longe, eu prometo censurar os meus sentidos, e queimar a minha memória quando fizer uma fogueira para me aquecer nas noites mais frias. Assim, a pouco e pouco, vou-me libertando, abrindo e espero acima de tudo que no final desta viagem sem fim eu consiga pensar e dizer que comecei de novo.

Quando começar de novo quero o mundo, quero a Lua, quero o Sol, quero toda a gente e não quero ninguém. Quando começar de novo quero alguém para não puderes voltar. Nem sei bem o que quero, quando começar de novo. Mas tenho a certeza de uma coisa, não te quero a ti.

sexta-feira, 12 de março de 2010

A mudança

Tudo muda, o tempo passa por todos e altera o curso natural das coisas, com o seu manto grisalho. A mudança é evidente e é apenas estúpido negá-lo. Toda a gente muda, é inevitável. Não me venham dizer que ninguém muda, ou que todos ficam na mesma. Bullshit.. Sempre me disseram que as oportunidades somos nós que as criamos, portanto eu quero criar a minha. Estou farto de esperar ao frio, à chuva, ao vento nesta paragem onde passam todos os autocarros menos o da mudança. Tudo permanece igual. É hoje o dia. Será que terei coragem? Sim! Abram alas, não vou esperar por ninguém, vou seguir em frente nesta autoestrada do Destino. Sigo embalado, disposto a mudar por mim mesmo, apesar de não saber exactamente o quê. As minhas asas de papel... corto-as. Assim vou parar de sonhar acordado e as minhas expectativas não serão paradisíacas, serão bem modestas. A minha maldita mania de viver num mundo onde é sempre Outono... rasgo-a, como rasgo estas roupas quentes, o verão está a chegar, e há de ser o fósforo para acender um novo rastilho que me fará explodir de alegria. Será este o dia, o melhor dia. E se de tudo tenho de abdicar em nome da mudança, tu não és excepção.

Nunca signifiquei tanto para ti, como tu para mim, isso sei, ainda que secretamente sempre tenha tentado forçar os acontecimentos para que isso assim fosse. Não tens o direito de me prender ao passado, como uma âncora que não deixa um navio desembarcar do seu cais. És a bagagem que vou ter de deixar para trás, o barco não tem espaço suficiente. Peço desculpas, uma última vez, e reafirmo, esta é a última vez que me atormentas. Está na hora de deixar de pensar em ti, está na hora de fazer a mudança mais importante e difícil de sempre, o barco não tarda em partir, e tu, tu ficas em terra. Esta vai ser a minha aventura, a minha vida, da qual tu não farás parte. Sem ti. Não tenho como, nem quero controlar o futuro, mas o meu instinto diz-me, que este é o dia, o melhor dia que já tive. A saudade é traiçoeira, mas eu sou um mestre manipulador, e não me deixo enganar. Adeus, esta sim é a mudança, a minha mudança, e hei de ser eu mesmo, feliz.

quarta-feira, 10 de março de 2010

A confusão

Que confusão. Porque é que ninguém, repito: ninguém, por muito que tente conseguir abdicar de toda a confusão que assole a sua vida, simplesmente não consegue? Os aviões a esvoaçar, os carros a passar, pessoas aos encontrões, de cabeça baixa, por vezes com um tímido 'bom dia, vizinho' quase que sussurrado e outras vezes apenas um olhar ou o simples sorriso amarelo como se tivéssemos a necessidade de mostrar que conhecemos aquela pessoa ou que não nos esquecemos dela, apesar de nunca termos simpatizado. Já estamos todos habituados, é o hábito que causa o desconforto, a distanciação das relações, uma sociedade semi-adormecida que mais parece um exército zombie de um filme dos anos 80 do que um conjunto de pessoas com vidas próprias. Perdeu-se o calor das relações, 'privatizou-se' e tenho pena que assim seja. Dou comigo a contrariar esta tendência, observo as pessoas no metro, no autocarro, na rua. Por detrás de uma barba com três dias sem ver lâmina, um par de óculos grandes e um emaranhado cabelo castanho está um estudante, revolucionário por natureza, capaz de morrer pelos seus ideais, mas no entanto rendeu-se ao hábito e à falta de relacionamento.

Por detrás de um par de óculos de sol enormes e um cabelo longo liso e elegante esconde-se uma mulher já graúda, com mais experiências de vida do que a maioria dos idosos, já partilhou alegrias e tristezas e nada tem já a perder, mas no entanto resignou-se ao caos e a esta confusão desgraçada que altera até os mais improváveis! Luto para que comigo não seja assim, embora a tarefa se tenha revelado difícil. Tudo em redor é demasiado confuso para alguém tão sozinho como eu. Há momentos em que até um simples batimento cardíaco meu era capaz de enviar uma nave espacial à Lua. O ruído é enorme, mas ainda mais ensurdecedor cá dentro, onde as respostas que procuro estão tudo menos perto. Precisava de uns auscultadores, que me isolassem deste ruído, mas isso seria ceder, desistir, resignar-me, e recuso-me a fazê-lo. Contigo todo o calor volta, um sinal da tua presença faz com que toda a frieza, a confusão se desvaneça, posso agir naturalmente, erguer a cabeça, fazer o que me apetece e cumprimentar quem quero, e não só porque é bonito. Sinto que já não faço parte do exército de zombies, mas de um clube muito exclusivo que só te tem a ti como membro. Todo o calor que uma relação deveria ter volta ao suposto e a confusão faz uma pausa. O tempo suficiente para eu descansar e encontrar o lugar a que verdadeiramente pertenço.

sábado, 6 de março de 2010

A saudade

Sentir a falta de algo chama-se saudade. Pelo menos é o que sempre me ensinaram desde que era um miúdo tímido e curioso. Nessa altura decidi que ia ter saudades dos amigos quando estivesse de férias, e que ia ter saudades de Coruche quando estivesse de férias. Com o tempo amadureci, assim como a minha saudade. É como se uma mão forte e áspera me afagasse o rosto, e deixasse arranhões leves mas suficientemente importantes para não me esquecer. Também sempre me ensinaram que era mau ter saudades, que era sinal de que algo ou alguém de quem gostávamos não estava mais presente. Também essa minha ideia amadureceu. A saudade é sinal de que amamos alguém de verdade e quanto mais o tempo a faz crescer mais faz dela a prova de que o amor é real, e dificilmente desaparecerá.

Há três verões que sinto a tua falta. Parece que é isto aquilo a que chamam saudade. Mas não sou egoísta, tenho perfeita noção de que estás melhor sem mim, quem sabe num sítio melhor. Gostava apenas que soubesses que tenho saudades tuas, e que a minha vida não está de maneira nenhuma melhor sem ti porque és insubstituível. Gostava que soubesses que te devo tanta coisa. Ajudaste-me a crescer, como homem e como pessoa e provavelmente nunca reparaste. A tua capacidade de transmitir confiança é tão grande que só de te observar eu já crescia e no entanto fazia-lo com tanta simplicidade e humildade que me punhas nervoso. Nunca fomos de muitas palavras, mas entre nós o silêncio substituía qualquer conversa, a sério: qualquer conversa. Gostava que soubesses que bem cá no fundo continuo a pensar em ti todos os dias e era capaz de trocar anos de vida só para te poder abraçar por uma última vez que nunca existiu. Não me arrependo de nada do que fiz, ou que tenhamos feito, mas gostava que soubesses que desde há três verões que não me sinto como me sentia contigo, porque me fazes falta, porque sinto saudade.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A música

Não, não me dês música agora, é cedo e não me apetece. Está frio, vamo-nos antes aquecer nas mantas do amor rasgadas da nossa música que toca sem parar. Toca, toca! Toca como um pássaro canta de felicidade, toca como o mar ruge quando encontra uma rocha, toca como um carro anda, rasgando o asfalto deixando um pequeno rasto. Quando encostas a tua cabeça ao meu peito, é como se fosses uma encantadora de serpentes e eu não tivesse mais nada senão a ti. Tresandas a música. Todos os sons que emites, mesmo inconscientemente parecem-me a mim grandes composições de música clássica. Quando encostas a cabeça no meu peito, é como se dentro de ti tivesses uma orquestra talentosa capaz de tocar todas as peças imagináveis. As baladas do amor, da guerra, da raiva, da paixão, da aventura. Derretes-me quando me cantas baixinho ao ouvido, até a tua voz é sinónimo de música.

Quando estás zangada e gesticulas desalmadamente eu só te consigo observar a ti e aos teus gestos. É como se fosses um maestro a coordenar na mais perfeita das harmonias uma sinfonia no tom mais agudo e grave ao mesmo tempo, numa escala por ti inventada cuja chave apenas tu sabes. Todos esses pequenos músicos te são fiéis e eram capazes de te confiar a sua vida, afinal de contas vivem dentro de ti. Digo outra vez: tresandas a música. Nas ocasiões mais especiais, tocas jazz como se um saxofone romântico tocasse sozinho enquanto os meus lábios tocam os teus. O piano acompanha suavemente a balada sensual e dá-lhe um sabor diferente. Mas não, hoje não, hoje não me dês música, quero por uma vez não ficar atordoado por todo esse teu feeling carregado de força e rock N' roll. Hoje quero apenas que sejas minha, sem música a acompanhar, num ritmo slow. Prometo que depois tocas para mim a tua música, até porque é a única que realmente gosto de ouvir.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Society

It's a mystery to me(...)
You think you have to want more than you need
Until you have it all, you won't be free

Society, you're a crazy breed
I hope you're not lonely without me
Society, crazy and deep
I hope you're not lonely without me

When you want more than you have
You think you need
And when you think more than you want
Your thoughts begin to bleed

Society, have mercy on me
I hope you're not angry if I disagree
Society, crazy and deep
I hope you're not lonely without me



(Eddie Vedder - Society)

segunda-feira, 1 de março de 2010

A viagem

Sempre quis saber como seria viajar. Não viajar de carro, ou de autocarro, ou de comboio, ou de moto, ou de avião, mas simplesmente viajarmos. A viagem é muito mais do que a mudança de um sítio para o outro, é muito mais bela se demorar o seu tempo e não tivermos pressa. Uma verdadeira viagem não tem uma mala gigante cheia de coisas que sabe-se lá se vamos precisar nem tem uma carteira recheada para qualquer eventualidade. Uma viagem significa aventura e pressupõe um espírito peregrino dentro de nós, em que a sede da fuga ultrapassa qualquer sensação de conforto que possamos ter. Sempre quis saber como seria viajar, livre de preocupações, pressupostos ou qualquer coisa mundana, apenas eu e o mundo. Deambular sem destino por aqui e por ali, seria certamente uma viagem, uma verdadeira viagem. O vento era quem me levava aos meus destinos e me guiava na falta deles. Sempre quis saber como seria se eu pussesse a mochila às costas e largasse tudo.

Tenho consciência das consequências que isso podia trazer. Talvez assim me entendessem melhor, o meu espírito livre e a minha vontade de simplesmente partir. Mas não, a minha vontade, por muito grande que seja, não é suficiente para acabar com esta cobardia que teima em não desaparecer, raios. Nem quando a felicidade está em jogo eu consigo livrar-me da cobardia e lutar por mim mesmo, é uma felicidade platónica. Não me falta nada, mas falta-me tudo. Tenho o que preciso mas não o que quero. Parece que a minha veia sonhadora se está a tornar gananciosa também, mas não quero saber. Também tenho noção de que a felicidade só é real quando partilhada com alguém e mesmo que eu a tivesse, não tinha com quem a partilhar, não te tinha a ti. Eras a peça-chave da derradeira viagem, a paisagem, os mantimentos, as botas, o chão, o mar, as nuvens, e por fim: tu. Tenho de admitir, era e é um sonho, e sempre será. Sei perfeitamente que não é possível, mas talvez sejas tu a chave para eu perder a cobardia que me impede de calçar as botas, que me impede de arrumar a mochila, talvez sejas tu aquilo que faz distinguir uma viagem d'A Viagem'

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A paixão

Ardente, flamegante. É o que muitas vezes sentimos, sem qualquer explicação plausível do como, ou porquê. Mas eu não procuro respostas plausíveis. A explicação está na suavidade de um toque, ínfimo mas com poder suficiente para acender uma chama. Chama essa causada pelo toque de pele com pele, suave, macio. Uma chama que nem o maior isqueiro do mundo era capaz de produzir. Está na intensidade de um olhar que vale por mil palavras e apesar de durar apenas o tempo de um piscar-de-olho, é como se tivéssemos tido uma conversa durante horas a fio. A explicação reside ainda num sussurro, junto ao nosso ouvido, proferido tão baixo que se torna responsável por uma cumplicidade inexplicável. A paixão está também na simplicidade de um sorriso sentido, que revela o que nos vai na mente, ainda que por muito o tentemos esconder. A fragrância nostálgica proporcionada por um perfume simples mas inconfundível, o sabor de um par de lábios chorudos e molhados que dão a início a um processo gustativo mais complexo do que a inteira existência do Universo.

Culpo os cinco sentidos por serem a ignição de uma paixão que só termina quando já não houver combustível. Culpo-os quando sinto pele de galinha e a teimosa dita borboleta voa dentro do meu estômago. Culpo-os quando esses teus olhos que escondem menos do que queres fazer parecer me matam ao trazer tudo o que poderia ter sido, mas não foi e quando um sussurro teu era capaz de fazer derreter um iceberg inteiro em pleno Inverno no Árctico. Culpo-os quando distingo o teu cheiro no meio de uma multidão e mesmo sem te ver, eu te consigo sentir ou quando sorris e todos olham para ti porque o teu sorriso é o mais brilhante de todos. Culpo os cinco sentidos, mas é certo que sem eles, eu não seria o mesmo. Ainda assim a culpa que detêm é evidente, estou forçado a gostar de ti. Esse feitiço que me lançaste à traição não permitiu sobrepor a lógica aos malditos cinco sentidos que me condenam a este fogo incansável ainda que inocente.

O Início

Perdão. Peço perdão neste tom poético, emocional ou que lhe desejarem chamar, por ter iniciado este blog sem primeiramente me identificar, com um nickname, ou ter escrito um texto pseudo-irreverente sobre mim ou sobre o fundamento desta página. Apesar de eu ser isso mesmo, um pseudo-irreverente, a minha irreverência vai contra todos os pressupostos formados acerca da irreverência, por isso, contra mim falo e aqui está um post em que me farto de escrever, mas não digo nada de concreto, nem relevante.

Já que não começámos da melhor forma, voltemos a'O Início', ao suposto fundamento do blog. Sobre mim, já sabem o suficiente. Interpretem como quiserem, julguem, critiquem, mandem beijinhos à família que está em França ou digam à mãe que estão na TV. Sobre o blog, é este mesmo, também já sabem para o que serve, apesar de eu não ter declaradamente afirmado, está implícito, e vocês sabem, ou julgam que sabem. Acho que vou ser simpático, e neste terceiro (e único post giro) dizer com todas as letras do teclado que é aqui um frustrado, cobarde como eu liberta tudo o que tem dentro e não quer, ou não consegue dizer em voz alta, nem quando está sozinho. É aqui que se esconde um foragido da realidade e mestre da ficção em alta definição. As vírgulas exageradas são uma característica chata, mas natural, habituem-se.

O sonho



De rojo, levam-me para o topo. Bem, não é certamente o topo que eu sempre quis, mas isso não é importante para vocês. De rojo, trouxeram-me, e vou de rojo, porque me recusei a ir, mas não tenho forças suficientes para vos contrariar. De rojo, arrastaram-me para o topo, quase como se tivesse essa obrigação. E se eu não quiser ir? O que é que isso interessa… Tenho de ir quer queira quer não. De rojo, mas ainda não completamente abatido, após uma luta de 18 anos, quero pelo menos fazer uma pergunta: Valeu a pena? Correu tudo como planeado? A sério, digam-me, valeu a pena? Provavelmente isso também não interessa, tal como a minha opinião não interessou. Enfim, já que estou condenado ao topo, nem que tenha de permanecer lá e rastejar, neste chão húmido e frio onde não posso lutar, choro, rio, deliro e tenho todo o tipo de ilusões.

Mas apesar da minha sanidade ter-se esvanecido à já tanto tempo, há algo que eu nunca cheguei a perder, algo que foi crescendo e crescendo com o tempo e que espero que se torne um dia forte suficiente para me livrar deste tormento. O sonho. O sonho de um dia estas correntes de preconceito e estas amarras de falta de respeito desaparecerem e vocês deixarem de agir como se eu fosse o espelho dos vossos projectos falhados. O sonho de um dia a minha existência ter algum valor, pelo menos mais do que aquilo que vale agora. O sonho de um dia não ter de andar de rojo, e de conseguir caminhar pelo meu próprio pé, poder descer estas escadas escorregadias e ficar bem cá em baixo, sem ser o alvo da vossa pressão e poder decidir por mim mesmo. O sonho de finalmente poder fazer o que gosto e ser quem sou. O sonho de poder chorar, rir, delirar sem ter de me preocupar com o que vocês pensam.
Mas entretanto, quanto tempo faltará para esse dia? O tempo nunca passou tão lentamente, cada bafo meu parece cada vez mais pesado, quanto mais aguentarei? De qualquer forma, até o meu sonho se tornar realidade, tenho de permanecer amarrado, fechado nesta cláusula. De rojo, passa mais um dia, de cabeça murcha, corpo com nódoas e hematomas causados pelos insultos e críticas que prontamente aceito sem ter sequer a chance de responder. De rojo, enfrento mais um dia nesta vida alegre e cheia de vida.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Disfarce

Disfarçe. Eu também tenho um disfarce. Aliás, tenho vários. Gosto de disfarçar-me de palhaço, com cara pintada de branco e um pequeno grande nariz vermelho e redondo que condiz com uma peruca de cabelo colorido e encaracolado. Dentro deste meu vasto guarda-roupa estão fatos como o de surfista, que consiste apenas de uns calções de banho, uma pele bronzeada e uns óculos-de-sol, o de intelectual, o de descontraído. Todos estes disfarces fazem um só grande disfarce que uso permanentemente. Uso-o por vários motivos. Contudo, nem sempre por boas razões. Mas porquê usar um disfarce?

Apercebi-me que eu sozinho não sirvo para agradar a tanta gente, não sirvo para agradar sequer a mim mesmo, o crítico mais severo e exigente na maioria das vezes. Sem o disfarce é como caminhar desnudo em frente de pessoas desconhecidas do sexo oposto, é como viajar sem passaporte ou andar sem pernas. Já faz parte de mim, e tenho pena que assim seja. Temo que me falte a coragem para o tirar, fora da solidão da minha mente, seria uma exposição enorme que provavelmente não me iria ajudar.

Este disfarce tem cortes e buracos de tantos anos de uso e começo a pensar se em vez de arranjar um novo não deveria simplesmente ver-me livre dele, e sentir-me livre. Mas depois volto a mim mesmo. O seu peso, é um peso ao qual já estou habituado e já carrego com uma indiferença inidentificável na maioria das vezes. Uma parte de mim deseja que o disfarce desapareça e que todos me olhem assim como sou sem ele, julguem o que tiverem a julgar. Uma parte de mim está disposta a correr esse risco. Estou em dúvida, se esse será o meu lado fraco, que não aguenta, ou o corajoso, que não teme. De qualquer das formas, isso não vai acontecer, pois sou ambos cobarde e fraco e essa desilusão seria tremenda.

Ainda se houvesse alguém que conseguisse ver através da máscara. Alguém que me olhasse nos olhos, e percebesse que por muito bom que seja o disfarce, eu nunca serei assim, alguém que me entenda e ainda assim resolva ficar comigo e não desista de mim, alguém que me ajude a tirar o disfarce, me dispa do medo e da fraqueza e me ajude a tornar naquilo que sou com ele, mas sem ter de o utilizar.