quinta-feira, 27 de maio de 2010

Para no desejo

"(...)Sentas-te na cama, eu canto uma canção sobre as coisas serem o que são. Fumamos à varanda com a lua a subir, tu danças no escuro, fazes-me sorrir. Largas roupas pelo meu chão, tens o mundo todo na mão. E sempre que te vejo, é, eu deixo de respirar. Paro no desejo de que o teu beijo me encontre e não quero acordar. Partimos em viagem, paramos para dormir, sussurras-me umas coisas que eu nem posso repetir. Até que um dia, tu deténs-te por momentos num sinal, dás mais umas piruetas mas já nada é igual. Perguntas-te o que pode estar para acontecer, e não parece difícil de saber. Agora tu estás longe, encontraste onde ficar e eu não, não me posso queixar. Acordo com o sol, refresco com o ar, vivo do que a vida tem para me dar."

Paralelo Infinito - Jorge Cruz

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O engano

Enganei-me. Toda a gente se engana, errar é humano, dizem. Realmente, se olhar para trás a única coisa que consigo ver são erros atrás de erros, enganos atrás de enganos, equívocos atrás de equívocos. Mas curiosamente nunca me arrependi. O arrependimento não é uma característica minha, simplesmente tenho demasiado orgulho para me arrepender de algo que fiz, mesmo tendo a noção que estava errado. Por outro lado, arrependo-me constantemente, quase diariamente, quase a cada clic que o relógio faz a marcar o segundo que passou. Mas arrependo-me do que não fiz, arrependo-me de me ter enganado e de não ter tido coragem de pedir desculpa, arrependo-me de não ter pegado em ti e fugido para um país tão longínquo que faria parecer o Cambodja o vizinho do lado. Mas arrependo-me ainda mais, de não conseguir corrigir os arrependimentos que me assombram e batem e espancam o dia todo, a noite toda, minuto a minuto, segundo a segundo, a cada clic do relógio. Por muito que queira, não consigo fazer nada, não me está no sangue. Bem, é melhor para de culpar os genes, cada um é dono de si próprio, e acho que fiquei mal amestrado.
Eu só queria que um dia não tivesse de me arrepender, que corresse tudo como planeio vezes sem conta na minha cabeça de vento, que não precisasse de fazer nada porque com um simples olhar tu entendias tudo o que eu penso ou quero, que não houvessem mais enganos, mais erros, mais equívocos e que tudo fosse tão simples como não parece nem é.

Melhores dias virão.

terça-feira, 4 de maio de 2010

O porquê

Sempre me perguntei porque é que passamos toda a nossa vida a fazer coisas mornas. O intermédio não está certo: ou quente ou frio. Porque é que passamos toda a vida a fazer coisas que não gostamos, só para no futuro podermos fazer outras coisas que às vezes nem gostamos? Ninguém gosta de ir à escola. Andamos desde pequenos a estudar a matemática, o português, a nossa História e queixamo-nos. Queixamo-nos tanto que até os pinguins e os ursos polares da neve acabam por levar por tabela. Queixamo-nos tanto que os leões da savana são cada vez menos. Ao longo da nossa vida, somos uns queixosos, odiamos as aulas, odiamos o básico, odiamos o secundário e chegamos a um ponto que até a Faculdade que era supostamente a nossa vocação, é detestada. Quando estamos a trabalhar odiamos o emprego, odiamos o patrão e os colegas e simplesmente tudo aquilo não é para nós. Porque é que nos sujeitamos a isto? Para não passar fome, dirão muitos. Para ter uma vida melhor, dirão outros. Nada disto faz sentido para mim. Porquê sujeitarmo-nos a toda uma vida de infelicidade por uns míseros anos bem acomodados no sofá? Porque não vivermos intensamente, aproveitar todos os momentos, viver com calor, com frio, com tristeza, com alegria, fazer o que nos faz feliz, estar com quem nos alegra, seguir aquilo por que estamos apaixonados?

Porque não simplesmente viver, puro e duro. Somos todos uns cobardes, ninguém tem coragem de o fazer, de largar tudo e viver somente para o que gosta. Quem o fez, não sabe o quanto eu os admiro. Vive, sente, gosta, sorri, gosta novamente. Era tudo o que eu queria. É assim tão difícil perceber o porquê? O porquê de vivermos? Vivemos para viver! Para viver, viver tudo com a maior intensidade possível. Seguir os nossos sonhos, realizá-los. O porquê da vida é não haverem porquês que não possamos responder com um outro porquê, deixando tudo em aberto. Tudo aquilo que foi deixado para trás, é trazido de volta com um fechar de olhos. Tudo aquilo que não vivemos, deitamos fora. Tudo aquilo que queremos, lutamos para ter. Momentos de felicidade eludida em todos os actos que fazemos é o mais importante. Todos procuram tanto e tanto a felicidade, a felicidade está em cada um de nós, a felicidade esta dentro de ti. Sabes que estás feliz quando sorris sem parar, quando estás bem assim e não precisas de mais nada, quando sentes que só agora é que a tua vida começou. A vida em si, é o maior dos porquês.