quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Em branco

Escrevo e rescrevo, apago e volto a escrever. Agora tudo mudou e é diferente para mim, já não vejo o mundo por um canudo, já consigo adormecer, os movimentos e os pensamentos surgem já muito mais fluídos, calmos e tenho tempo para suspirar. Apercebi-me há cerca de um mês que não faz muito sentido continuar a escrever sobre o que me desagrada, já não vivo no fundo do poço. Continua a haver algo a precisar de mudanças, fui eu quem mudou, não o mundo, simplesmente já não me incomodam tanto. Até aqui marquei-me pelo desabafo, pelo suspiro, pela irreverência moderada e pela resignação forçada, mas esse capítulo fechou e não vale mais a pena continuá-lo, até porque já nada tenho a dizer.

Não sei sobre o que mais escrever, porque nunca aprendi, nunca me ensinaram nem nunca senti que fosse necessário escrever sobre outra coisa. Talvez continue por aqui, como aquele cachorro que volta para o dono quando tem fome, ou talvez me vá embora de vez, fica em aberto, mas de qualquer das formas, sei que estará sempre aqui para eu escrever, para vocês lerem e eu reler, quando me apetecer.

Não sei se faz sentido escrever sobre a felicidade, porque nunca tinha estado feliz, e porque a felicidade não é como a tristeza e se demonstra, não se escreve, e eu estou a trabalhar nisso. Costumava escrever aqui aquilo que sentia e não conseguia dizer nem a ninguém, nem a mim próprio, aquilo que nem eu próprio sabia que sentia, nem o que é que sentia.

Obrigado, por teres lido, por te preocupares ao ler.
Fica aqui um adeus temporário, um final em branco, espero não ter de voltar.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Noite e Dia

Farto de um sítio como este, onde os mosquitos nos sugam o sangue e vão lampeiros reluzir-se nos holofotes da ribalta, esvoaçando em trajectórias impossíveis de prever, como que competir pelo lugar mais perto da luz, quando o céu está escuro. Onde nem de noite os predadores diurnos descansam e me dão tréguas. Sempre preferi a noite pelo silêncio, pelo luar, pelo mistério. Mas a noite é traiçoeira e perigosa. Facilmente nos embebedam com conversas ultrapassadas e nos põem a vomitar de tanto lixo que engolimos. Ainda assim, a perigosa noite continua a ser a melhor e única alternativa ao dia que tem doze horas de luz. Aqui dentro, as doze horas são doze anos e continuam a não ser suficientes para resolver todos os problemas que existem aqui. À noite, os problemas descansam, refugiam-se e escondem-se e eu finalmente suspiro de alívio, até cair.

Agora diz-me quem és tu, que estás agora de pé, à minha frente. Olho-te fixamente e só de o fazer, sinto que não me és estranha. Fazes a transição entre a noite e o dia, entre o bem e o mal, e tens a chave do cadeado que prende os meus problemas. Levantas o braço graciosamente, e estende-lo na minha direcção. Eu impulsivamente recuo mas algo me fez parar. Abriste-a e os problemas começam a fugir. Surpreso eu começo a sorrir, afago-te o cabelo e a noite torna-se dia. Foste tu, sacana. Não sei como foste capaz de chegar, acontecer, fazer com que tudo desapareça e te tornares a resposta para tudo. Foda-se, absolutamente tudo! Dou um passo em frente e abraço-te desprovido de tudo aquilo que me prendia dantes. Tu fizeste o mesmo. Agora, que estou contigo as doze horas são doze minutos e o tempo não chega. Agora odeio a noite porque me priva de pensar em ti. Agora já não odeio mais nada, tenho as minhas explicações. O teu sorriso inocente deixa-me na dúvida se és realmente tão experiente como eu penso. A guerra com os sentidos acabou, eu ganhei, mas eles também. As minhas mãos preenchem as tuas, os meus sonhos voam tão alto que já nem os encontro. A minha boca passeia por ti e os meus ouvidos sentem uma voz apaixonante.

Então continuo farto deste sítio, dos mosquitos lampeiros, da luminosidade e do barulho, mas agora tenho-te a preencher o vazio da minha mente. O buraco que outrora sangrava está cozido e nunca estive tão lúcido. Ainda agora começaste a batalha e já ganhaste a guerra. Agradeço-te por isso, por não me matares com o teu olhar, por me deixares observá-lo com atenção enquanto puder, porque estou apaixonado.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A esperança

Também é necessária. Quando tudo desaba à nossa volta e aquilo que julgávamos dentro da nossa capacidade de controlo se afasta, de repente as peças do lego estão espalhadas pelo chão, temos de nos manter de pé, não vacilar e começar de novo. Falta motivação, falta força, falta vontade, falta até motivo, mas... é necessário. Tenho esperanças de um dia conseguir contrariar esta tendência natural para o fracasso. Amanhã é outro dia, talvez tão mau, talvez igual, talvez diferente, mas pelo menos não será o mesmo. Tenho esperanças de um dia conseguir encarar o futuro sem ter de sentir o passado de uma forma tão mais loucamente intensa do que sinto o presente, , como mandam os livros, tenho esperanças de conseguir olhar em diante, apenas em diante, onde é suposto eu estar. Mas sabes o que é que eu espero? Que me percebas, que me conheças, que me respeites, que me catives. Espero um dia conseguir erguer o queixo bem no ar enquanto ando sem que as minhas pernas tremam que nem varas verdes, que os meus passos sejam regulares, que a minha consciência esteja limpa.

Como será isto possível se nada fazes por isso? Preferes sentar-te no sofá e sonhar, fechar os olhos e planear tudo: essa tua pequena vidinha perfeita; podes até lutar por ela, pela tua vida, ou pela tua felicidade, mas na realidade o que significa isso? Se não tens a esperança a guiar-te, é provável que te percas pelo caminho. Primeiro senta-te e sonha, projecta, depois levanta-te, caminha e age. Mas diz-me como posso fazer isto, se há algo, se existe algo em ti que me troca as voltas, que me põe de pernas para o ar, e que apesar de me encher de esperança, rapidamente ma tira num piscar de olhos, dando lugar a desilusão. Sempre que estás por perto, a voz treme, as pernas fraquejam, os olhos focam o chão, e o arrependimento enche-me os pensamentos. Arrependimento do que não fiz, do que fiz certo e devia ter errado, e de não te ter abraçado enquanto tive tempo. Por enquanto as pernas tremem, desapareceste. Por enquanto o queixo está cabisbaixo, não vais voltar. Por enquanto permaneço sentado, a ganhar a força, a vontade de continuar, a motivação. Já dizia o velho que a esperança é a última a morrer e se tudo o resto me falha, se tudo o resto desapareceu, a esperança continua, mesmo sem te ter aqui comigo, talvez dê para suportar a saudade.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Cinza

Não tires uma foto, tem sido um mau dia. Uma péssima semana, um mês terrível e um ano desastroso. Afasta a tua objectiva, está demasiado perto. O que é que queres de mim se não levaste já tudo? Afastaste-te, construíste-te de novo sozinha, fizeste-me a vontade. Agora que tudo devia estar bem, piorou. Preciso de silêncio, de um dia livre de multidões e caos, de um dia cinzento e sem alegrias que o corrompam. De um dia em que o fumo se confunda com as nuvens e que o nevoeiro esteja tão baixo que me sirva de camuflagem, para eu poder acabar o jogo. Só peço um dia de cinza, para esta nuvem que está dentro da minha cabeça começe a pedir boleias para fora e eu finalmente consiga pensar direito. A puta da nuvem já inchou, já está negra, já trovejou e já inundou literalmente qualquer tipo de jogo que eu tivesse para encartar.

Agora jogas o Ás de Espadas, mas eu continuo o Rei de Copas, e já não tenho trunfos.

É injusto quanto tens os quarto ases na mão e já me destrunfaste desde o início. Não vou desistir, porque isto para mim já não se trata apenas de um jogo entre dois lunáticos. É agora a minha realidade distorcida que me faz arder os olhos cada vez que os abro para te espreitar, porque a tua cara de poker me assusta, que me faz tremer os lábios porque isto é um 'jogo' de silêncio, que me faz ouvir tudo. Por isso te peço: acaba de me destrunfar e leva o Rei de Copas para junto da sua Dama, ganhaste a batalha, quiçá a guerra, mas peço-te novamente para não te esqueceres: É à melhor de três e eu não assinei nenhuma rendição.

sábado, 2 de outubro de 2010

A necessidade

Provém do hábito, da habituação, da monotonia e da melancolia, é quase um vício, uma dependência. Necessidade de falar, raramente a tenho, necessidade de ouvir, ainda menos. Existem tantas coisas para 'necessitar', coisas que já fazem parte da vida em si, e cuja mesma não existiria sem elas. Sem sofrer grandes alterações, são as necessidades que marcam a diferença, boas ou más. Maioritariamente más, porque é que precisamos de comer, porque é que sentimos a necessidade de falar, ou de fumar, ou de ser reconhecidos, ou de sorrir. É uma dependência, cada um tem a sua, ou suas, pois uma nunca vem só. Evito ao máximo tudo aquilo que me cause uma necessidade posterior, por isso encho bem o estômago, para não ter fome, falo comigo na minha cabeça, horas a fio, para não ser um fala-barato, mas tenho uma necessidade para a qual não consigo arranjar solução, pôr paninhos quentes ou remendar com uma agulha. Podia tentar tapar os olhos sempre que me apareces, mas depois perder-te-ia para a escuridão. Podia tentar tapar os ouvidos cada vez que abres a boca para falar, mas estaria cada vez mais longe do mar. Podia tentar tapar o nariz sempre que estou ao teu lado, mas nem assim o cheiro desapareceria das minhas roupas. Podia tentar não te tocar, podia tentar que não fosses minha amiga, e desaparecesses, mas és o pólo positivo do íman que puxa os negativos como eu.

É estranho, tudo isto é simplesmente estranho, seres a única coisa à qual o meu disfarce parece não ser suficiente, seres a única pessoa capaz de quebrar as minhas defesas sem ter de se esforçar. Desesperadamente procuro auxílio em tudo o que posso encontrar. Pontes ou estradas, ventos ou mares, guerras ou escaramuças. Qualquer coisa serve para me entreter e me impedir de pensar em ti, para não ter a necessidade de te ver, de te ouvir, de te tocar, de te cheirar, de te ter. Tenho a certeza que fizeste um pacto com os cinco sentidos, sua cabra.

sábado, 4 de setembro de 2010

Um sentdo

"Tudoaquiloqueprocuroeumsentidonestesitiofrioeinospitoporvezestraiçoeiroaquechamamosmundo."

So preciso de um sentido, uma direcçao a seguir, porque o que quer que faça, simplesmente nao me da o gozo que deveria dar, nao como da aos outros. Tudo e amargo e persigo todas as sensaçoes em busca de algo que me faça sentir e talvez encontrar um sentido. Por vezes caio em tampas de esgoto, quando apenas num infimo segundo, fico na Lua. E o suficiente para ser atingido por projecteis, uns afiados outros pesados e bem duros de roer. Outras vezes como rebuçados, fico com o açucar na boca e... deveria deliciar-me? Vejo toda a gente a lamber os labios de satisfaçao, a desembrulhar o proximo, ja com enormes quantidades de saliva a ser contida apenas pela boca fechada. E eu fico a olhar para eles. Sim, de facto um rebuçado e bom, e doce... Mas nao sentem falta de mais nada? Nao sentem falta de alguma amargura? de um sentimento frio e duro que nos choque, que nos deixe num estado de diferença e que nos mude? Nao e apenas uma questao de ser diferente, ou de querer ser diferente, mas tenho de ser fiel a mim mesmo, pelo menos, e tentar buscar aquilo que ainda nao descobri. Fico entao na Lua, a pensar se as tampas de esgoto sao tao mas como dizem, e se os rebuçados sao assim tao bons? Nao sei...

Tambem ja procurei montanhas-russas, estupefacientes, gritos, murros e nada parece satisfazer esta necessidade de encontrar o derradeiro sentimento e de fazer com que deixe de me sentir tao estranho. Tenho a certeza que nada disto vai parar. Quando encontrar o que procuro, vou sentir de novo o mesmo e tudo isto vai ser e mais dificil de saciar, mas hey, o que posso eu fazer? Nada. Ninguem senao eu sabe aquilo que sinto porque nao e passivel de ser traduzido por palavras devido a complexidade deste idioma corporal que nem eu sabia que podia sentir. Tentei dizer, tentei explicar, mas sempre sem exito. O unico conforto que tenho esta nos acordes, nos falsetes, nos timbres, nas vibraçoes e nas harmonias que oiço e que apesar de nao me indicarem um sentido, o meu sentido, ajudam-me a nunca desistir enquanto o procuro, todos os dias. Entretanto, o meu caminho continua e nao faço a minima ideia do que vou fazer a seguir, mas desistir nao e uma opçao, e continuar de cabeça baixa tambem nao. Independentemente daquilo que se seguir, daquilo que eu fizer ou disser ou decidir, sera em prol do meu futuro, de encontrar o sitio onde pertenço, o sitio onde nao me sinto estranho, onde nao ha tampas de esgoto nem rebuçados para escolher, mas existe um futuro para mim, um proposito, um sentido.

sábado, 21 de agosto de 2010

She

"You may not be her first, her last, or her only. She loved before she may love again. But if she loves you now, what else matters? She's not perfect - you aren't either, and the two of you may never be perfect together but if she can make you laugh, cause you to think twice, and admit to being human and making mistakes, hold onto her and give her the most you can. She may not be thinking about you every second of the day, but she will give you a part of her that she knows you can break - her heart. So don't hurt her, don't change her, don't analyze and don't expect more than she can give. Smile when she makes you happy, let her know when she makes you mad, and miss her when she's not there."-Bob Marley

PS- Se quiserem a traduçao digam.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Carta

Nao, esta nao e uma carta de amor. Nao e amor, nem odio, nem revolta nem angustia. Nao e nada. Estou-te a escrever simplesmente porque posso e porque sei que o que quer que aqui escreva ja alguem o sabe. E uma carta pequena, porque nunca foi o meu destino ser grande, nem nunca quiseste que eu o fosse. Esta carta marca um novo inicio, onde provavelmente, contra todas as aprendizagens, vou cometer exactamente os mesmos erros que ja cometi tantas vezes, mesmo tendo noçao disso. Mas os erros nao sao maus. Porque e que todos tem medo de errar, explicas-me? Eu tenho muito mais medo de nao saber que errei. Começar de novo e sempre bom, se desse para apagar o passado, fazer reset e começar de novo com o que aprendemos. Gostava de poder um dia sair a rua com alegria e mostra-lo a toda a gente, mas preciso de ti. Quando receberes isto, vem ter comigo e le-me tudo em voz alta, talvez mais do que uma vez para eu ter a certeza que es tu. Sim, com tanta mudança, eu esqueço-me do que tenho e nao posso nem quero perder. De um lado tenho tudo aquilo que fui conquistando como um rei, merecendo cada coisa. Do outro tenho-te a ti. Tenho mesmo de escolher? O meu ideal de mudança passava por uma nova vida, mas contigo, porque por muito bom que tudo isto seja, por muito feliz que seja, ou pense ser, ignorando todas as etiquetas que saltam e dizem "Cliche", nada disto faz sentido sem ti, e no entanto consegues com que eu fosse capaz de dar tudo para te ter (ao meu lado), se isso fosse possivel. Nao posso ir ter contigo, por isso te escrevo esta carta, esta especie de carta que tu provavelmente les com um sorriso e arrumas no bolso antes de te levantares da cadeira e fazeres a estrada.


PS- Perdoem-me a falta de acentuaçao, mas o meu teclado esta com dificuldades tecnicas. Ja se juntou ao clube.

PS2- A serio, estou a tua espera. Nao temas.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O voo

Deitado, ou de pé, olhar o céu e sonhar sempre foi um passatempo. Invejei de uma forma série a maneira livre como os pássaros se movimentavam tão facilmente pelo espaço aéreo livremente e sem preocupação. E os aviões, monstros metálicos tão colossais e pesados bem lá no alto. Como é que conseguem (e eu não)? O homem nunca foi feito para voar, aliás o homem nunca foi feito, o homem fez-se. E porque é que o homem nunca quis voar e se resignou ao domínio da terra. Eu pelo contrário nunca fui um sujeito passivo, sempre quis voar, pelo menos saber como o fazer. A necessidade de um voo esteve sempre cá dentro, especialmente agora que já não olho nem os pássaros nem os aviões. Os meus sonhos, porém voam mais alto do que qualquer objecto voador, identificado ou não. Por isso nunca tive um pássaro ou dois, não se pode "ter" pássaros. Eles nunca nos pertenceram, nem hão-de pertencer. Sinto-me preso quando os vejo, a minha gaiola é maior mas mais cruel. Não compreendo o porquê de prender os pássaros. É inveja? Inveja de não poderem levantar voo com um pequeno bater de asas imediato?

Preciso de um voo, porque a minha alma está presa. Por isso soltem-me, a mim e aos pássaros, a mim e aos morcegos que dançam pela penumbra. A mim e aos vampiros que vêm pela escuridão e te sugam o sangue e te abandonam sem piedade. Não me dêem pára-quedas porque já à muito que eu caí. Não me dêem asas de papel, porque eu rasgo-as e queimo-as como às tuas fotografias. Não preciso de soluções fáceis, de remendos nas roupas, quero apenas voar, daqui para fora. Demora o tempo que demorares, eu não tenho pressa, mas leva-me daqui para fora ou ensina-me a fazê-lo. Mas tens de ser tu a dizer: "Vai!" Serão as tuas palavras mágicas, que nunca disseste mas que eu anseio por ouvir, dia após dia, sem nunca me perder, ou à minha esperança.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Maresia


Leve, fresca, húmida. Por vezes cortante, mas sempre reconfortante. Todos têm um pequeno mundo interior onde pensam, decifram os enigmas, tentam lidar com as dificuldades e arranjar uma solução para os problemas. Tenho duas formas de fazer isto. A primeira traduz-se na música do Jorge Palma, a outra é a maresia. A sério, ver o Sol a esconder-se de nós, atrás de uma ténue linha longínqua, cada vez mais depressa faz-me pensar no tempo que estou a perder ao observá-lo a fugir, mas não tem importância. Ouvir a voz certa para nos reconfortar e sentir a maresia completam tudo. Já não dou importância à companhia, porque uma visão de areia do lado esquerdo, uma visão de areia do lado direito, o mar em frente e o Sol quase a alcançá-lo para se abraçarem e apagarem as luzes, é tudo o que eu podia pedir. Aí basta-me uma guitarra nos braços, para me sentir vivo, que tudo tem afinal um sentido e que o problemas se resolvem sozinhos se assim quisermos. Nunca precisamos de mais ninguém para ser felizes. Basta sermos quem somos e nunca nos arrependermos daquilo que somos e nos tornámos. Só temos de agradecer pelo que temos e lutar pelo que queremos. Não vou baixar os braços e deixar que me pisem, tenho a minha maresia, a minha guitarra e o meu mundo.

Se conseguires seguir tudo isto, ensina-me. Sempre tive uma enorme mania de achar que tudo gira à nossa volta, à minha volta, que tudo tem de passar por mim, apesar da minha enorme vontade de alterar isto. Da mesma forma que não conseguimos alterar as nossas necessidades, nunca nos conseguiremos alterar a nós próprios, e eu já não tenho respostas para todas essas perguntas - É impossível mudar. Se outrora achei que tudo era possível, sinto-me agora resignado, desmotivado, com vontade de ser apenas eu próprio, sem tentativas falhadas de me disfarçar de nada. Lembram-se, O Disfarce? Será que o esforço vale a pena? Preciso de mais uma maresia, pois só quando estou nela consigo responder a muitas destas perguntas. A maresia forte, cortante mas com uma humidade e frescura reconfortante no Verão. Eu sempre gostei de sentir o vento na cara, forte, leve, quente, cortante. A maresia é diferente, porque tem esta capacidade invejável de quando tudo é uma merda, me fazer conseguir sorrir, não para esconder nada, mas porque podia ser pior. Precisava de sentir a maresia todos os dias, sim, precisava.