sexta-feira, 23 de abril de 2010

A conversa

Foi com uma pequena conversa que tudo começou. Essa conversa durou o tempo que uma lareira demora a apagar, sem mão humana, simples, natural. Um turbilhão de emoções passou por mim deixando paz, serenidade e uma séria despreocupação, mas tirou-me aquilo que eu mais queria, a minha inocência. O meu corpo mudou, habituou-se ao calor constante que ambientava a nossa conversa e a minha mente limpou-se, deixou-me concentrado apenas no que devia ser feito. Foi a primeira conversa que tive contigo, tão mágica. Porém tudo o que é bom, tem de acabar. Eu nunca quis que acabasse, por egoísmo ou por teimosia conversei, conversei até já não ter voz para dizer nem mais uma palavra e fiquei deliciado quando me apercebi que estavas a fazer exactamente a mesma coisa, por mim. Perdi a conta das horas que passámos a conversar, porque naquela bolha de ar, o tempo pára. Aquilo que mais me surpreendeu foi a doçura da tua voz, que ecoava de uma forma amarga aleatoriamente pela Via Láctea.


Foi a melhor conversa que já tive. Foi, pretérito perfeito. Novamente, tudo o que é bom acaba, até mesmo esta memória que guardo sem perder um detalhe. Contei exactamente quantas palavras a conversa teve. Tive de contar várias vezes para ter a certeza de que não me tinha enganado, seria inadmissível. Zero palavras, a nossa conversa teve zero palavras. Zero palavras, cinquenta e quatro sorrisos, trezentos e quarenta e dois beijos, cento e onze abraços e toques impossíveis de contar porque se confundiam com os deslizes da minha mão no teu corpo. Esta forma de falar parece-me muito mais humana, juro que não tive dificuldade de compreender o que sentias porque a tua alma era um espelho e eu via-me em ti. Seria errado guardar apenas as memórias boas. O final é sempre o que custa mais a guardar, mas é necessária para uma retrospectiva deste amor carnal. Da mesma forma que começou, esta conversa terminou, e eu nunca mais fui o mesmo. Tiraste-me a inocência, mas deste-me experiência. O teu calor vai ficar guardado melhor do que nunca. E não vou ter mais frio quando estiver sozinho. Quando saíste, a bolha de ar rebentou, molhou-me, humilhou-me. Da mesma forma que esta conversa começou, esta conversa acabou, e tudo mudou.

2 comentários:

  1. "Zero palavras, cinquenta e quatro sorrisos, trezentos e quarenta e dois beijos, cento e onze abraços e toques impossíveis de contar porque se confundiam com os deslizes da minha mão no teu corpo. Esta forma de falar parece-me muito mais humana, juro que não tive dificuldade de compreender o que sentias porque a tua alma era um espelho e eu via-me em ti."

    João,
    mais um vez, digo que é difícil não gostar dos teus textos, escreves com uma facilidade enorme. Está lindo e muito bem escrito, adorei.

    Um grande beijo,
    Tatiana Revez

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  2. Segundo Parágrafo Brilhante.

    Cumprimentos,

    KM119

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