sábado, 27 de fevereiro de 2010
A paixão
Culpo os cinco sentidos por serem a ignição de uma paixão que só termina quando já não houver combustível. Culpo-os quando sinto pele de galinha e a teimosa dita borboleta voa dentro do meu estômago. Culpo-os quando esses teus olhos que escondem menos do que queres fazer parecer me matam ao trazer tudo o que poderia ter sido, mas não foi e quando um sussurro teu era capaz de fazer derreter um iceberg inteiro em pleno Inverno no Árctico. Culpo-os quando distingo o teu cheiro no meio de uma multidão e mesmo sem te ver, eu te consigo sentir ou quando sorris e todos olham para ti porque o teu sorriso é o mais brilhante de todos. Culpo os cinco sentidos, mas é certo que sem eles, eu não seria o mesmo. Ainda assim a culpa que detêm é evidente, estou forçado a gostar de ti. Esse feitiço que me lançaste à traição não permitiu sobrepor a lógica aos malditos cinco sentidos que me condenam a este fogo incansável ainda que inocente.
O Início
Já que não começámos da melhor forma, voltemos a'O Início', ao suposto fundamento do blog. Sobre mim, já sabem o suficiente. Interpretem como quiserem, julguem, critiquem, mandem beijinhos à família que está em França ou digam à mãe que estão na TV. Sobre o blog, é este mesmo, também já sabem para o que serve, apesar de eu não ter declaradamente afirmado, está implícito, e vocês sabem, ou julgam que sabem. Acho que vou ser simpático, e neste terceiro (e único post giro) dizer com todas as letras do teclado que é aqui um frustrado, cobarde como eu liberta tudo o que tem dentro e não quer, ou não consegue dizer em voz alta, nem quando está sozinho. É aqui que se esconde um foragido da realidade e mestre da ficção em alta definição. As vírgulas exageradas são uma característica chata, mas natural, habituem-se.
O sonho
De rojo, levam-me para o topo. Bem, não é certamente o topo que eu sempre quis, mas isso não é importante para vocês. De rojo, trouxeram-me, e vou de rojo, porque me recusei a ir, mas não tenho forças suficientes para vos contrariar. De rojo, arrastaram-me para o topo, quase como se tivesse essa obrigação. E se eu não quiser ir? O que é que isso interessa… Tenho de ir quer queira quer não. De rojo, mas ainda não completamente abatido, após uma luta de 18 anos, quero pelo menos fazer uma pergunta: Valeu a pena? Correu tudo como planeado? A sério, digam-me, valeu a pena? Provavelmente isso também não interessa, tal como a minha opinião não interessou. Enfim, já que estou condenado ao topo, nem que tenha de permanecer lá e rastejar, neste chão húmido e frio onde não posso lutar, choro, rio, deliro e tenho todo o tipo de ilusões.
Mas apesar da minha sanidade ter-se esvanecido à já tanto tempo, há algo que eu nunca cheguei a perder, algo que foi crescendo e crescendo com o tempo e que espero que se torne um dia forte suficiente para me livrar deste tormento. O sonho. O sonho de um dia estas correntes de preconceito e estas amarras de falta de respeito desaparecerem e vocês deixarem de agir como se eu fosse o espelho dos vossos projectos falhados. O sonho de um dia a minha existência ter algum valor, pelo menos mais do que aquilo que vale agora. O sonho de um dia não ter de andar de rojo, e de conseguir caminhar pelo meu próprio pé, poder descer estas escadas escorregadias e ficar bem cá em baixo, sem ser o alvo da vossa pressão e poder decidir por mim mesmo. O sonho de finalmente poder fazer o que gosto e ser quem sou. O sonho de poder chorar, rir, delirar sem ter de me preocupar com o que vocês pensam.
Mas entretanto, quanto tempo faltará para esse dia? O tempo nunca passou tão lentamente, cada bafo meu parece cada vez mais pesado, quanto mais aguentarei? De qualquer forma, até o meu sonho se tornar realidade, tenho de permanecer amarrado, fechado nesta cláusula. De rojo, passa mais um dia, de cabeça murcha, corpo com nódoas e hematomas causados pelos insultos e críticas que prontamente aceito sem ter sequer a chance de responder. De rojo, enfrento mais um dia nesta vida alegre e cheia de vida.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
O Disfarce
Disfarçe. Eu também tenho um disfarce. Aliás, tenho vários. Gosto de disfarçar-me de palhaço, com cara pintada de branco e um pequeno grande nariz vermelho e redondo que condiz com uma peruca de cabelo colorido e encaracolado. Dentro deste meu vasto guarda-roupa estão fatos como o de surfista, que consiste apenas de uns calções de banho, uma pele bronzeada e uns óculos-de-sol, o de intelectual, o de descontraído. Todos estes disfarces fazem um só grande disfarce que uso permanentemente. Uso-o por vários motivos. Contudo, nem sempre por boas razões. Mas porquê usar um disfarce?
Apercebi-me que eu sozinho não sirvo para agradar a tanta gente, não sirvo para agradar sequer a mim mesmo, o crítico mais severo e exigente na maioria das vezes. Sem o disfarce é como caminhar desnudo em frente de pessoas desconhecidas do sexo oposto, é como viajar sem passaporte ou andar sem pernas. Já faz parte de mim, e tenho pena que assim seja. Temo que me falte a coragem para o tirar, fora da solidão da minha mente, seria uma exposição enorme que provavelmente não me iria ajudar.
Este disfarce tem cortes e buracos de tantos anos de uso e começo a pensar se em vez de arranjar um novo não deveria simplesmente ver-me livre dele, e sentir-me livre. Mas depois volto a mim mesmo. O seu peso, é um peso ao qual já estou habituado e já carrego com uma indiferença inidentificável na maioria das vezes. Uma parte de mim deseja que o disfarce desapareça e que todos me olhem assim como sou sem ele, julguem o que tiverem a julgar. Uma parte de mim está disposta a correr esse risco. Estou em dúvida, se esse será o meu lado fraco, que não aguenta, ou o corajoso, que não teme. De qualquer das formas, isso não vai acontecer, pois sou ambos cobarde e fraco e essa desilusão seria tremenda.
Ainda se houvesse alguém que conseguisse ver através da máscara. Alguém que me olhasse nos olhos, e percebesse que por muito bom que seja o disfarce, eu nunca serei assim, alguém que me entenda e ainda assim resolva ficar comigo e não desista de mim, alguém que me ajude a tirar o disfarce, me dispa do medo e da fraqueza e me ajude a tornar naquilo que sou com ele, mas sem ter de o utilizar.