sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Disfarce

Disfarçe. Eu também tenho um disfarce. Aliás, tenho vários. Gosto de disfarçar-me de palhaço, com cara pintada de branco e um pequeno grande nariz vermelho e redondo que condiz com uma peruca de cabelo colorido e encaracolado. Dentro deste meu vasto guarda-roupa estão fatos como o de surfista, que consiste apenas de uns calções de banho, uma pele bronzeada e uns óculos-de-sol, o de intelectual, o de descontraído. Todos estes disfarces fazem um só grande disfarce que uso permanentemente. Uso-o por vários motivos. Contudo, nem sempre por boas razões. Mas porquê usar um disfarce?

Apercebi-me que eu sozinho não sirvo para agradar a tanta gente, não sirvo para agradar sequer a mim mesmo, o crítico mais severo e exigente na maioria das vezes. Sem o disfarce é como caminhar desnudo em frente de pessoas desconhecidas do sexo oposto, é como viajar sem passaporte ou andar sem pernas. Já faz parte de mim, e tenho pena que assim seja. Temo que me falte a coragem para o tirar, fora da solidão da minha mente, seria uma exposição enorme que provavelmente não me iria ajudar.

Este disfarce tem cortes e buracos de tantos anos de uso e começo a pensar se em vez de arranjar um novo não deveria simplesmente ver-me livre dele, e sentir-me livre. Mas depois volto a mim mesmo. O seu peso, é um peso ao qual já estou habituado e já carrego com uma indiferença inidentificável na maioria das vezes. Uma parte de mim deseja que o disfarce desapareça e que todos me olhem assim como sou sem ele, julguem o que tiverem a julgar. Uma parte de mim está disposta a correr esse risco. Estou em dúvida, se esse será o meu lado fraco, que não aguenta, ou o corajoso, que não teme. De qualquer das formas, isso não vai acontecer, pois sou ambos cobarde e fraco e essa desilusão seria tremenda.

Ainda se houvesse alguém que conseguisse ver através da máscara. Alguém que me olhasse nos olhos, e percebesse que por muito bom que seja o disfarce, eu nunca serei assim, alguém que me entenda e ainda assim resolva ficar comigo e não desista de mim, alguém que me ajude a tirar o disfarce, me dispa do medo e da fraqueza e me ajude a tornar naquilo que sou com ele, mas sem ter de o utilizar.

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