segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O voo

Deitado, ou de pé, olhar o céu e sonhar sempre foi um passatempo. Invejei de uma forma série a maneira livre como os pássaros se movimentavam tão facilmente pelo espaço aéreo livremente e sem preocupação. E os aviões, monstros metálicos tão colossais e pesados bem lá no alto. Como é que conseguem (e eu não)? O homem nunca foi feito para voar, aliás o homem nunca foi feito, o homem fez-se. E porque é que o homem nunca quis voar e se resignou ao domínio da terra. Eu pelo contrário nunca fui um sujeito passivo, sempre quis voar, pelo menos saber como o fazer. A necessidade de um voo esteve sempre cá dentro, especialmente agora que já não olho nem os pássaros nem os aviões. Os meus sonhos, porém voam mais alto do que qualquer objecto voador, identificado ou não. Por isso nunca tive um pássaro ou dois, não se pode "ter" pássaros. Eles nunca nos pertenceram, nem hão-de pertencer. Sinto-me preso quando os vejo, a minha gaiola é maior mas mais cruel. Não compreendo o porquê de prender os pássaros. É inveja? Inveja de não poderem levantar voo com um pequeno bater de asas imediato?

Preciso de um voo, porque a minha alma está presa. Por isso soltem-me, a mim e aos pássaros, a mim e aos morcegos que dançam pela penumbra. A mim e aos vampiros que vêm pela escuridão e te sugam o sangue e te abandonam sem piedade. Não me dêem pára-quedas porque já à muito que eu caí. Não me dêem asas de papel, porque eu rasgo-as e queimo-as como às tuas fotografias. Não preciso de soluções fáceis, de remendos nas roupas, quero apenas voar, daqui para fora. Demora o tempo que demorares, eu não tenho pressa, mas leva-me daqui para fora ou ensina-me a fazê-lo. Mas tens de ser tu a dizer: "Vai!" Serão as tuas palavras mágicas, que nunca disseste mas que eu anseio por ouvir, dia após dia, sem nunca me perder, ou à minha esperança.

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