sexta-feira, 25 de junho de 2010

O medo

O medo é o sentimento mais puro. Raios, o mais puro. O mais puro e provavelmente aquele que todos temem, porque só o seu nome dá medo, O Medo. Todos têm medo, a única diferença é que uns fingem melhor do que outros. Eu sei bem quando finges, quando começas a barafustar, gritar, elevar o tom de voz. Porque o fazes, o que temes? Eu estarei sempre contigo mesmo que não estaremos juntos. O meu maior medo é enorme, e é um medo racional. Não é comparável ao medo das alturas, ou de estar fechado em sítios apertados. É um medo consciente, mas que ao mesmo tempo não posso controlar. É fodido porque não posso mostrar que o tenho. Tenho de fingir que tenho medo de ter medo. Não tenho medo de ter medo, simplesmente tenho um medo. Um simples e insignificante medo que me impede de prosseguir com o coisas que não me devia preocupar. Nunca sentiram que a vida vos está a passar ao lado? Que escolheram a zona neutra para viver? Que ninguém vos dá importância porque vão ficar sempre no meio de tudo. Ora este é o meu pior dos pesadelos. O meu lado boémio diz-me para não me envolver demasiado, para aproveitar as pequenas coisas, mas no fundo aquilo que eu mais quero é reconhecimento, atenção. Sempre estive no intermédio, sempre vivi no Outono, sempre gostei de tudo e nunca detestei nada. O meu medo é o de ficar para sempre como 'O tipo normal' aquele que está lá, mas nunca ninguém presta grande atenção. Nem alto nem baixo, nem gordo nem magro, nem bonito nem feio, nem extrovertido nem introvertido, o que sou eu afinal?

Sou aquele que faz tudo um pouco, mas faz pouca coisa muito bem. Nem burro nem brilhante. Terei então alguma característica que me distinga dos outros? Boa ou má, qualquer coisa serve para matar o meu medo, mas parece que não. Estará tudo bem se eu for sempre assim, morno? Ás vezes, penso: como seria se eu desaparecesse? Sentiriam a minha falta ou seria simplesmente "aquele que deu à sola"? De certeza que alguns sentiriam a minha falta, afinal a normalidade também dá alguns amigos. "Pelo menos tens alguns amigos..." dizem alguns. É verdade, mas o medo é geral, e não faz especificações. Todos os dias penso, e tento ganhar forças para enfrentar o medo, mas em vão. Os meus passos são muito lentos, porque não é essa a minha Natureza. Não fui feito para ser um gajo frio ou quente. Nunca vou marcar ninguém pela frieza, não gosto do frio. Nunca vou marcar ninguém pelo calor, não sou caloroso por Natureza. Sou morno, uma mistura esquisita das duas que é sinónimo da Normalidade. É isso que eu sou, um ser Normal? Vou ser marcado como o normal? É provável, e já passaram tantos anos, é difícil contrariar esta tendência. O que me resta então? Resta-me viver e esperar por alguém com uma visão afiada, capaz de distinguir seres normais entre tanta anormalidade que deambula por todo o lado. Se isso alguma vez acontecer, eu saberei que não estou sozinho, que não sou o único.

6 comentários:

  1. Dos melhores textos. Uma das coisas que te distingue é esta bonita maneira de te expressares. Não sabes como partilho este teu medo. Jess

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  2. Concordo, este realmente é o teu melhor texto até ao momento. Está fantástico.
    Queres saber de uma coisa, não és só tu a ter este medo, eu tenho e acredito que muitas pessoas o têm.

    Continua!
    Beijinhos
    Tatiana Revez

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  3. Gostei. Compensaste os ultimos dois textos.

    Cumprimentos,
    KM119

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  4. nem sei o que dizer, sinceramente. um dos melhores textos. o resto já tinha dito!

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  5. Uma enorme análise sobre o medo... um texto muito interessante, especialmente, porque é algo que todos sentimos e partilhamos: animais racionais e irracionais, a maior parte das reacções de pessoas e animais são desencadeadas pelo medo...
    podes, pois, continuar a tua introspecção... ainda há muito para analisar... força

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