quarta-feira, 10 de março de 2010

A confusão

Que confusão. Porque é que ninguém, repito: ninguém, por muito que tente conseguir abdicar de toda a confusão que assole a sua vida, simplesmente não consegue? Os aviões a esvoaçar, os carros a passar, pessoas aos encontrões, de cabeça baixa, por vezes com um tímido 'bom dia, vizinho' quase que sussurrado e outras vezes apenas um olhar ou o simples sorriso amarelo como se tivéssemos a necessidade de mostrar que conhecemos aquela pessoa ou que não nos esquecemos dela, apesar de nunca termos simpatizado. Já estamos todos habituados, é o hábito que causa o desconforto, a distanciação das relações, uma sociedade semi-adormecida que mais parece um exército zombie de um filme dos anos 80 do que um conjunto de pessoas com vidas próprias. Perdeu-se o calor das relações, 'privatizou-se' e tenho pena que assim seja. Dou comigo a contrariar esta tendência, observo as pessoas no metro, no autocarro, na rua. Por detrás de uma barba com três dias sem ver lâmina, um par de óculos grandes e um emaranhado cabelo castanho está um estudante, revolucionário por natureza, capaz de morrer pelos seus ideais, mas no entanto rendeu-se ao hábito e à falta de relacionamento.

Por detrás de um par de óculos de sol enormes e um cabelo longo liso e elegante esconde-se uma mulher já graúda, com mais experiências de vida do que a maioria dos idosos, já partilhou alegrias e tristezas e nada tem já a perder, mas no entanto resignou-se ao caos e a esta confusão desgraçada que altera até os mais improváveis! Luto para que comigo não seja assim, embora a tarefa se tenha revelado difícil. Tudo em redor é demasiado confuso para alguém tão sozinho como eu. Há momentos em que até um simples batimento cardíaco meu era capaz de enviar uma nave espacial à Lua. O ruído é enorme, mas ainda mais ensurdecedor cá dentro, onde as respostas que procuro estão tudo menos perto. Precisava de uns auscultadores, que me isolassem deste ruído, mas isso seria ceder, desistir, resignar-me, e recuso-me a fazê-lo. Contigo todo o calor volta, um sinal da tua presença faz com que toda a frieza, a confusão se desvaneça, posso agir naturalmente, erguer a cabeça, fazer o que me apetece e cumprimentar quem quero, e não só porque é bonito. Sinto que já não faço parte do exército de zombies, mas de um clube muito exclusivo que só te tem a ti como membro. Todo o calor que uma relação deveria ter volta ao suposto e a confusão faz uma pausa. O tempo suficiente para eu descansar e encontrar o lugar a que verdadeiramente pertenço.

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