segunda-feira, 1 de março de 2010

A viagem

Sempre quis saber como seria viajar. Não viajar de carro, ou de autocarro, ou de comboio, ou de moto, ou de avião, mas simplesmente viajarmos. A viagem é muito mais do que a mudança de um sítio para o outro, é muito mais bela se demorar o seu tempo e não tivermos pressa. Uma verdadeira viagem não tem uma mala gigante cheia de coisas que sabe-se lá se vamos precisar nem tem uma carteira recheada para qualquer eventualidade. Uma viagem significa aventura e pressupõe um espírito peregrino dentro de nós, em que a sede da fuga ultrapassa qualquer sensação de conforto que possamos ter. Sempre quis saber como seria viajar, livre de preocupações, pressupostos ou qualquer coisa mundana, apenas eu e o mundo. Deambular sem destino por aqui e por ali, seria certamente uma viagem, uma verdadeira viagem. O vento era quem me levava aos meus destinos e me guiava na falta deles. Sempre quis saber como seria se eu pussesse a mochila às costas e largasse tudo.

Tenho consciência das consequências que isso podia trazer. Talvez assim me entendessem melhor, o meu espírito livre e a minha vontade de simplesmente partir. Mas não, a minha vontade, por muito grande que seja, não é suficiente para acabar com esta cobardia que teima em não desaparecer, raios. Nem quando a felicidade está em jogo eu consigo livrar-me da cobardia e lutar por mim mesmo, é uma felicidade platónica. Não me falta nada, mas falta-me tudo. Tenho o que preciso mas não o que quero. Parece que a minha veia sonhadora se está a tornar gananciosa também, mas não quero saber. Também tenho noção de que a felicidade só é real quando partilhada com alguém e mesmo que eu a tivesse, não tinha com quem a partilhar, não te tinha a ti. Eras a peça-chave da derradeira viagem, a paisagem, os mantimentos, as botas, o chão, o mar, as nuvens, e por fim: tu. Tenho de admitir, era e é um sonho, e sempre será. Sei perfeitamente que não é possível, mas talvez sejas tu a chave para eu perder a cobardia que me impede de calçar as botas, que me impede de arrumar a mochila, talvez sejas tu aquilo que faz distinguir uma viagem d'A Viagem'

2 comentários:

  1. Olá João!!

    Muito bem!!Estou a gostar!

    Gostei muito de duas frases:
    " O vento era quem me levava aos meus destinos e me guiava na falta deles."

    e
    "Não me falta nada, mas falta-me tudo. Tenho o que preciso mas não o que quero."

    eu já sabia que tinhas geito para a coisa!!!eu não escolho assim à toa os companheiros na aula de português não é!!
    ´
    Bom e como o dom das palavras não é para mim... Deixo-o para ti!!

    Bj e continua!

    Ana Barroso

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  2. Tu sabes que deste sempre (*cof*cof*desde 2006 ou 2007*) que eu gosto dos teus textos, por isso não há mais nada a dizer sem ser que são geniais e espectaculares, sem excepção.
    Ah, e é graças a ti que pessoas como eu ficam sem saber se CC é o curso certo para elas (pois não possuem um dom da palavra assim tão avançado como o teu).

    Beijinhos, sempre contigo,

    Rita Marques

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